Guinada na imigração dá esperança a hispânicos nos EUA

PUBLICIDADE

Por TIM GAYNOR
Atualização:

Ricardo, um mexicano que vive ilegalmente nos EUA, sai de casa diariamente antes de amanhecer, atrás de algum bico na construção civil, sem saber se conseguirá reencontrar a mulher e os três filhos no final do dia ou se será apanhado em alguma blitz do serviço de imigração. Ultimamente, esse medo constante vem perdendo força. Ricardo, de 46 anos, está entre os milhões de imigrantes latinos que, independentemente do seu status legal, se animaram nesta semana com a disposição da oposição republicana em aceitar uma reforma da imigração, numa tentativa de conter a perda dos votos entre o eleitorado hispânico, que foi crucial para a recente reeleição do presidente Barack Obama, do Partido Democrata. Até recentemente, a posição do Partido Republicano era basicamente de reprimir a imigração ilegal. Mas, passada a eleição, o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, disse que "já passou muito da hora de uma abordagem abrangente". "Quando saímos... é sempre como medo de que possamos não voltar para casa", disse Ricardo, falando em espanhol, no sofá da sua casa, em Phoenix. "Mas agora dá para a gente ver a luz no fim do túnel." O governo Obama, numa manobra que reforçou seu apoio junto ao eleitorado latino, disse em junho que abrandaria as regras de deportação, de modo que muitos imigrantes ilegais que chegaram aos EUA quando crianças poderiam permanecer trabalhando. No domingo, o senador Charles Schumer disse que ele e o senador Lindsey Graham decidiram retomar as negociações sobre uma proposta que abre caminho para a legalização dos estimados 11,2 milhões de imigrantes ilegais nos EUA. Desde 2007, quando uma iniciativa proposta pelo presidente George W. Bush parou no Senado, os hispânicos e outros imigrantes não escutavam palavras tão promissoras. Para Ricardo e sua esposa, Alicia, que permaneceram no Arizona apesar da dura política do Estado contra imigrantes clandestinos, uma reforma abrangente representa a possibilidade de um visto permanente de residência para o casal, e de um futuro mais garantido para seus filhos. O casal, que pediu para não ter o sobrenome revelado, entrou nos EUA há 11 anos, caminhando pelo deserto do Arizona. Ele trabalha como pedreiro, e ela como faxineira. Os filhos, hoje com 21, 16 e 13 anos, haviam entrado anteriormente no país, de ônibus, usando documentos falsos. Hoje fluentes em inglês e espanhol, os filhos se consideram norte-americanos. Os latinos são a maior minoria dos EUA e o grupo demográfico que mais cresce no país. Sua participação no eleitorado saltou de 8 por cento em 2008 para 10 por cento na eleição deste ano, segundo o Centro Hispânico Pew. (Reportagem adicional de David Adams em Miami)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.