Obama diz que simulação de afogamento é tortura

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Por JEFF MASON
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O presidente dos EUA, Barack Obama, qualificou na quarta-feira como tortura a prática de submeter presos a simulações de afogamento durante interrogatórios, e defendeu sua decisão de proibir tal método, que havia sido autorizado pelo governo Bush contra suspeitos de terrorismo. Obama disse que a prática viola os ideais norte-americanos e não é adequada, mesmo que facilite a obtenção de informações. "A simulação de afogamento viola nossos ideais e nossos valores. Acredito, sim, que é tortura", disse ele em entrevista coletiva. "Por isso pus um fim a essas práticas." Pressionado a dizer se isso significava que o governo do ex-presidente George W. Bush havia aprovado a tortura, Obama disse: "Acredito que a simulação de afogamento é tortura. E acho que - quaisquer que sejam as razões jurídicas usadas - foi um erro." Muitos especialistas dizem que as táticas agressivas de interrogatório resultam em informações não-confiáveis, porque o preso diz qualquer coisa para parar o sofrimento. Obama afirmou que informações obtidas por meio da técnica poderiam ter sido conseguidas por outros métodos, "consistentes com nossos valores, de modos que fossem consistentes com quem somos". "Em alguns casos pode ser mais difícil, mas parte do que nos faz, eu acho, ainda um farol para o mundo é que estamos dispostos a nos manter leais aos nossos ideais mesmo que seja difícil, não só quando é fácil." Obama disse que, ao abandonar essa prática, os EUA fortalecem a relação com seus aliados e privam a Al Qaeda de uma ferramenta para recrutar militantes. O presidente provocou polêmica neste mês ao divulgar memorandos da era Bush que forneciam justificativa jurídica para as práticas agressivas, inclusive a simulação de afogamento. Depois disso, o ex-vice-presidente Dick Cheney defendeu a divulgação de memorandos que mostrem que as técnicas serviam para obter informações valiosas. O jornal The New York Times relatou que Dennis Blair, diretor de inteligência nacional do governo Obama, disse a colegas em um memorando privado que as técnicas agressivas resultavam em "informações de alto valor". Obama afirmou que os memorandos mantidos em sigilo não respondiam às questões essenciais - se a informação poderia ter sido obtida por outros meios, e se o país ficou mais seguro por causa dos métodos polêmicos. "Serei afinal julgado como comandante-chefe por quão seguro estou mantendo o povo norte-americano", afirmou. "Então farei o que for necessário para manter o povo norte-americano seguro. Mas estou absolutamente convencido de que a melhor maneira de fazê-lo é garantir que não estamos pegando atalhos que abalem quem somos."

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