Obama é mais garçom que mediador na 'cúpula da cerveja'

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Por DAVID ALEXANDER
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O presidente dos EUA, Barack Obama, assumiu na quinta-feira as atribuições de primeiro-garçom ao recepcionar na Casa Branca os protagonistas de um caso policial de contornos raciais, ocorrido neste mês. Obama, primeiro presidente negro dos EUA, tomou cerveja na sede de governo com o respeitado acadêmico de Harvard e documentarista Henry Louis Gates, que também é negro, e com o sargento de polícia James Crowley, branco. A Casa Branca disse que a "cúpula da cerveja" pode servir de trampolim para um diálogo nacional sobre a questão racial. Crowley deteve Gates sob a acusação de comportamento impróprio, depois de abordá-lo na entrada da própria casa do professor, em 16 de julho. A imprensa noticiou o caso salientando a suspeita de discriminação racial, e Obama inflamou a situação ao declarar que a polícia havia "agido estupidamente" ao prender seu amigo. Diante da repercussão negativa do comentário, Obama recuou e telefonou para o policial, sugerindo que os envolvidos fossem chamados à Casa Branca para tomar uma cerveja e fazer as pazes. Durante todo o dia, o presidente e a Casa Branca tentaram minimizar as expectativas, dizendo que não haveria nenhum grande anúncio, e seriam apenas três pessoas tomando cerveja. "Devo dizer que estou fascinado com o fascínio acerca desta noite", disse Obama antes. "Noto que isso tem sido chamado de cúpula da cerveja. É um termo inteligente, mas não é uma cúpula, gente. São três pessoas tomando uma bebida ao final do dia". Acrescentou que seria uma chance para que esses três homens se ouvissem mutuamente e refletissem, em vez de "estimularem o ódio e a hipérbole". "É uma tentativa de ter alguma interação pessoal quando uma questão se tornou tão valorizada e tão simbólica que a gente pode perder de vista o simples fato de que são pessoas envolvidas, eu inclusive, todas as quais são imperfeitas", acrescentou o presidente. O encontro ocorreu em uma mesa externa perto do Salão Oval. Cada protagonista escolheu sua cerveja favorita: Bud Light para Obama, Blue Moon para Crowley e Red Stripe para Gates. O vice-presidente Joe Biden também estava à mesa. No dia do incidente, Gates voltava de uma viagem à China e encontrou a porta de sua casa emperrada, e por isso a forçou com o corpo. Um vizinho viu a cena e, pensando se tratar de um roubo, chamou a polícia. Crowley nega a acusação lançada por Gates de que teria havido uma abordagem mais agressiva pelo fato de o professor ser negro. A polêmica em torno do caso - inclusive com a declaração feita por Obama em uma entrevista coletiva - acabou distraindo por alguns dias a atenção do governo e da opinião pública do debate em torno da reforma da saúde pública, prioridade legislativa de Obama. Depois de recuar das suas declarações iniciais, Obama disse ter vivido um "momento de aprendizado", que poderia estimular o diálogo sobre a questão racial. Mas a Casa Branca deixou claro que tal iniciativa não deve partir do governo. "Quando o presidente diz que 'o governo não pode resolver todos os seus problemas', acho que vocês podem colocar isso sob esse guarda-chuva", disse o porta-voz Robert Gibbs. Embora Gates tenha exigido desculpas, Gibbs disse que o encontro não serviu para negociar pedidos de perdão. E o presidente estava preparado para agir como mediador? "Não", disse Gibbs, "como garçom".

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