LONDRES- David Cameron espera que sua primeira viagem a Washington como primeiro-ministro britânico, que ocorrerá nesta terça-feira, 20, irá demonstrar uma próspera amizade com o presidente Barack Obama, mas sua visita pode ser encoberta por preocupações sobre a BP.
O envolvimento da empresa britânica no vazamento de petróleo no Golfo do México e especulações sobre o possível papel da gigante petroleira na libertação de um líbio culpado por um atentado a bomba complicaram as relações entre os dois países antes da reunião de Cameron com Obama.
Abdelbaset al-Megrahi foi condenado à prisão perpétua em janeiro de 2001 por seu envolvimento na explosão de um avião da companhia aérea americana Pan Am sobre a cidade escocesa de Lockerbie, em 1988, em um atentado que matou 270 pessoas.
O gabinete de Cameron tentou minimizar o problema, afirmando que o assunto pode surgir durante o encontro, mas não é uma "questão principal". O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que o caso provavelmente seria discutido, mas o Afeganistão deve dominar a agenda.
Perguntado em uma entrevista na BBC sobre como a BP pode ter agido para libertar o libanês que sofre de câncer por razões humanitárias, Cameron respondeu: "Não tenho ideia do que a BP fez. Eu não sou responsável pela BP".
A petroleira confirmou na quinta ter discutido com o governo britânico, em 2007, a demora na conclusão de um acordo para a transferência de prisioneiros com a Líbia, mas negou interferência no caso específico de al-Megrahi.
"Nós estávamos cientes de que isso (a demora) poderia ter um impacto negativo em interesses comerciais britânicos, incluindo a ratificação, pelo governo líbio, de um acordo de exploração (de petróleo) com a BP", disse a empresa em um comunicado.
O Senado americano convocou executivos da BP e funcionários do governo britânico na próxima semana para depor sobre a possível influência da empresa na soltura do líbio.
Cameron, que está no poder desde maio, disse que irá defender a BP em Washington, preocupado com que a firma possa enfrentar ações por empresas e famílias afetadas pelo pior vazamento de petróleo na história dos Estados Unidos.
Afeganistão
Um porta-voz de Cameron afirmou que o foco da viagem aos Estados Unidos seria "nas grandes questões nas quais temos agenda comum: Afeganistão, a economia global e o Oriente Médio".
Após chegar ao poder, o premiê britânico afirmou que o Afeganistão seria sua grande prioridade em política externa, mas também destacou que o Reino Unido não permaneceria no país por mais cinco anos, a duração prevista de seu mandato.
Neste domingo, o ministro de Defesa britânico, Liam Fox, disse que as tropas britânicas abandonarão o Afeganistão em 2014, um ano antes do esperado.
O Reino Unido conta com um contingente de 10.000 soldados no país, menor apenas que o dos Estados Unidos, e já sofreu 322 baixas, 13 durante este mês.
Obama garante que mantém a data de julho de 2011 para iniciar a retirada das tropas do Afeganistão, mas sempre tendo em conta as condições da guerra no país.
Oriente Médio
Os dois líderes também discutirão o andamento das negociações de paz no Oriente Médio, onde se encontra o enviado especial dos Estados Unidos, George Mitchell, para mais uma rodada de conversações indiretas entre israelenses e palestinos.
Washington pressiona tanto o governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, como a Autoridade Nacional Palestina, presidida por Mahmoud Abbas, para que as negociações diretas comecem o mais rápido possível.
A situação econômica global completará os temas da conversa entre Cameron e Obama, que já abordaram o assunto na cúpula do G-20 em junho passado, no Canadá.
Durante sua estadia em Washington, o premiê britânico também tem prevista uma reunião com o vice-presidente americano, Joe Biden, e com vários congressistas.
Sua viagem aos Estados Unidos terminará na quarta em Nova York, onde ele se encontrará com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.