Rússia e EUA trocam 14 espiões em operação ao estilo Guerra Fria

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Por GUY FALCONBRIDGE E SYLVIA WESTALL
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A maior troca de espiões desde a Guerra Fria aconteceu na sexta-feira, quando aviões russos e americanos aterrissaram em Viena para trocar agentes secretos, desativando um drama de espionagem que colocava em risco a melhora recente nas relações entre os dois países. Dois aviões envolvidos na troca - um russo e um americano - estacionaram lado a lado na pista do aeroporto de Viena por cerca de uma hora e meia, enquanto veículos transitavam entre eles. Então o avião russo decolou, seguido pelo avião americano. Autoridades de Viena, ela própria um centro de intrigas na Guerra Fria, mantiveram um blecaute noticioso total durante a troca. Mas um funcionário de segurança russo não identificado confirmou que os agentes presos nos Estados Unidos tinham deixado Viena em um avião com destino à Rússia, informaram agências de notícias russas. Moscou e Washington tinham decidido anteriormente trocar dez agentes russos detidos nos EUA por quatro russos presos na Rússia, acusados de fazer espionagem para o Ocidente. A conclusão dramática do escândalo de espionagem que atraiu todas as atenções nos EUA aconteceu depois de agências de espionagem terem mediado o acordo, atendendo às instruções dos presidentes, ansiosos por não estragar uma série de avanços diplomáticos importantes conquistados nas relações Rússia-Estados Unidos. No primeiro passo da operação cuidadosamente coreografada, os dez agentes russos se confessaram culpados na quinta-feira, em um tribunal de Nova York, das acusações feitas a eles, e foram deportados imediatamente. Por volta da meia-noite, horário local, o presidente russo Dmitry Medvedev assinou um decreto perdoando quatro russos que estavam cumprindo penas longas de prisão em seu país por espionagem em favor do Ocidente. Alguns dos acusados nos EUA embarcaram em um avião em Nova York na noite de quinta-feira, e o mesmo jato da Vision Airlines aterrissou em Viena na sexta, disse uma testemunha da Reuters. Enquanto os aviões estavam estacionados, algumas pessoas foram vistas entrando no jato do Ministério russo de Emergências, no aeroporto, e outras subiram no jato da Vision Airlines. Então o avião russo decolou, seguido dez minutos mais tarde pelo jato americano. ACORDOS O Departamento de Justiça dos EUA anunciou na quinta-feira: "Os EUA concordaram em transferir esses indivíduos para a custódia da Federação Russa". "Em troca, a Federação Russa concordou em libertar quatro indivíduos encarcerados na Rússia por suposto contato com agências de inteligência ocidentais", acrescentou. O escândalo dos espiões aconteceu em um momento impróprio para as relações EUA-Rússia, dias depois de Obama e Medvedev terem se encontrado em cúpula amistosa em Washington, no mês passado. Os Parlamentos americano e russo analisam a ratificação de um importante tratado de redução de armas nucleares firmado pelos dois presidentes em abril, e a Rússia está contando com o apoio dos EUA para sua tentativa de ingressar na Organização Mundial do Comércio. Nenhum dos lados quer prejudicar essa cooperação delicada. O Ministério do Exterior russo disse em comunicado que a troca de espiões "oferece razões para se esperar que o caminho acordado pelos líderes da Rússia e dos EUA será implementado consistentemente na prática e que as tentativas de afastar as partes dele não terão êxito". Mas a troca - que, como brincou um site russo na Internet, foi "Rússia 10 vs EUA 4" - pode reforçar as acusações republicanas de que Obama está sendo demasiado leniente com Moscou. Um 11o suspeito identificado pelas autoridades americanas desapareceu depois de ser libertado sob fiança, após ser preso em Chipre. (Reportagem adicional de Amie Ferris-Rotman e Alexei Anishchuk)

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