Suspeitos de atentado de Boston trazem eco de violência na Chechênia

Até agora, não houve nenhuma reivindicação de responsabilidade pelo ataque que deixou três mortos

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Durante o tempo de vida dos dois suspeitos do bombardeio de Boston, a terra natal deles, Chechênia, viu duas invasões russas desencadearem alguns dos piores derramamentos de sangue da Europa em gerações, e produzirem combatentes que realizaram ataques contra civis que chocaram o mundo. Até agora, não houve nenhuma reivindicação de responsabilidade pelos ataques contra a Maratona de Boston ou evidências tornadas públicas das motivações dos suspeitos, os irmãos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev. Ambos deixaram um rastro na Internet sugerindo que eles eram muçulmanos devotos, orgulhosos de sua herança chechena e defensores da busca da região por independência de Moscou. O ataque de Boston poderia ser um impulso para o presidente russo, Vladimir Putin, que sempre argumentou que os separatistas chechenos não são nada além de terroristas e busca apoio do Ocidente contra um inimigo comum. O tio dos suspeitos, que disse que os meninos levaram "vergonha a toda a etnia da Chechênia", contou que eles nunca moraram na Chechênia. Antes de irem para os Estados Unidos, eles foram educados no Daguestão, uma região vizinha que foi arrastada para a violência da Chechênia na década de 1990 e, desde então, se tornou o ponto focal de uma insurgência islâmica crescente. Ambas as províncias fazem parte do Cáucaso do Norte, uma faixa montanhosa do sul da Rússia povoada principalmente por minorias étnicas muçulmanas, com uma história de rebelião contra Moscou - e brutal repressão russa - que datam de séculos. Quando a União Soviética acabou em 1991, chechenos procuraram a independência assim como as outras 14 ex-repúblicas soviéticas que saíram da órbita de Moscou. Mas Moscou decidiu lutar ao invés de deixá-los sair. O suspeito Dzhokhar Tsarnaev nasceu em 1993 e recebeu o mesmo nome que Dzhokhar Dudayev, o líder separatista checheno da época. Dudayev foi morto por um míssil russo em 1996, quando suas forças rebeldes estavam infligindo uma derrota humilhante sobre as tropas russas. Moscou retirou suas forças depois de dois anos de luta, mas Vladimir Putin, então primeiro-ministro, mandou-as de volta em 1999, desta vez para esmagar o movimento de independência e colocar no lugar um líder leal escolhido a dedo, cujo filho Ramzan Kadyrov agora comanda a região com um punho de ferro. Kadyrov disse que a Chechênia não tinha nada a ver com os atentados em Boston: "A raiz do mal deve ser procurada nos Estados Unidos", afirmou ele na Internet. "(Os irmãos) cresceram e estudaram nos Estados Unidos e as suas atitudes e crenças foram formadas lá....Qualquer tentativa de fazer uma conexão entre a Chechênia e os Tsarnaevs será em vão." MORTES DE CIVIS As duas guerras da Chechênia mataram dezenas de milhares de civis, principalmente como resultado do bombardeio em massa russo da capital Grozny e de vilas nas montanhas. Centenas de milhares de pessoas foram expulsas de suas casas. Hoje, a região do Cáucaso do Norte ainda enfrenta a violência de uma insurgência liderada por um grupo islamita, o Emirado do Cáucaso, liderado por um ex-comandante guerrilheiro da independência chechena, Doku Umarov. Grande parte da violência está focada em Daguestão. Um site que monitora a agitação, o Caucasus Knot, diz que a violência relacionada com a insurgência já matou 61 pessoas este ano. A segurança é uma questão importante para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, que serão realizados em Sochi, uma parte pacífica do Cáucaso do Norte. Em sua página em um site de mídia social, o suspeito Dzhokhar Tsarnaev fez piada sobre a reputação de pessoas do Cáucaso do Norte em conflitos com as autoridades: "Um carro passa com uma pessoa da Chechênia, uma do Daguestão e uma da Inguchétia. Pergunta: Quem está dirigindo?. A resposta: a polícia." 

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