
23 de outubro de 2019 | 16h25
WASHINGTON - O presidente Donald Trump prometeu nesta quarta-feira, 23, suspender as sanções contra a Turquia, impostas depois de o presidente Recep Erdogan ter iniciado uma ofensiva militar contra milícias curdas na Síria. Segundo Trump, o governo garantiu que cumprirá um cessar-fogo "permanente" ao longo da fronteira com a Síria.
Em um evento organizado às pressas na Casa Branca, Trump aproveitou para justificar sua agenda de política externa de manter os Estados Unidos longe de conflitos no exterior. O presidente disse também que está removendo as tropas americanas de uma região em que não deveriam estar envolvidas.
"Deixem outra pessoa lutar por essa areia há tempos manchada de sangue", disse Trump.
Ele reivindicou o crédito pelo cessar-fogo e sugeriu que o acordo salvaria dezenas de milhares de vidas curdas na região – apesar de, um dia antes, a Rússia e a Turquia terem concordado com um plano de expulsar combatentes curdos sírios de uma ampla faixa de território ao sul da fronteira da Turquia.
O cessar-fogo de cinco dias anunciado na semana passada durou até o encontro de ontem entre o presidente russo Vladimir Putin e o turco Recep Erdogan, em mais um sinal de que a Rússia tem ganhado relevância geopolítica no conflito na Síria.
O governo Trump anunciou as sanções em 14 de outubro, após a ofensiva militar turca contra as forças lideradas pelos curdos no norte da Síria. A ofensiva veio depois de Trump anunciar que retiraria as tropas americanas da Síria – decisão que gerou rígidas críticas dos dois partidos.
Em suas declarações na quarta, Trump chamou o cessar-fogo de "permanente", mas acrescentou que o uso da palavra na discussão da região é "questionável" – e disse que as sanções à Turquia seriam suspensas "a menos que aconteça algo que não nos deixe felizes."
Trump também disse que havia conversado por telefone com o general curdo Mazloum Abdi, que disse ter lhe assegurado que os combatentes do Estado Islâmico permanecerão presos.
"Alguns saíram, um número pequeno", disse Trump, acrescentando que alguns foram recapturados, embora declarações de outros funcionários do governo afirmassem o contrário.
E, em um sinal de tensões entre Trump e líderes do Partido Republicano, o presidente sugeriu que está aberto a uma possível visita de Erdogan à Casa Branca no próximo mês.
"Na cabeça dele, ele está fazendo a coisa certa para seu país, e pode ser que nos encontremos em um futuro bem próximo", disse Trump sobre Erdogan.
Trump foi duramente criticado por membros de ambos os partidos por ter decidido, no início do mês, retirar as tropas americanas do nordeste da Síria, com muitos argumentando que Trump deu a Erdogan luz verde para lançar uma ofensiva militar contra os curdos sírios.
Mas, em um tuíte na manhã de quarta-feira, o presidente americano proclamou que a situação na fronteira entre a Turquia e a Síria foi um grande sucesso.
"Zona de segurança criada!", disse Trump. “O cessar-fogo foi realizado e as missões de combate terminaram. Os curdos estão seguros e trabalharam muito bem conosco. Prisioneiros capturados do ISIS assegurados.”
Apesar de Trump ter declarado sucesso na Síria, a política dos EUA parecia estar em desordem. O secretário de Defesa Mark T. Esper estava na capital iraquiana para discutir a redistribuição de centenas de tropas americanas depois que as forças armadas do Iraque anunciaram sua oposição à permanência das forças americanas no país.
E, em audiência do Senado na terça-feira, James Jeffrey, enviado especial do governo para a Síria, foi censurado pelos legisladores, que rejeitaram sua insistência de que os objetivos dos EUA na Síria – impedir um ressurgimento do Estado Islâmico, remover os aliados iranianos do presidente Bashar al-Assad do país e estabelecer uma democracia ativa no país – permaneceram intactos.
Alguns, como o Senador Marco Rubio, apontaram relatos de fugas de prisioneiros do Estado Islâmico de prisões administradas por curdos na Síria e o potencial dos militantes de apreenderem campos de petróleo sírios.
Outros, como o senador Robert Menendez, disseram que a alegação de vitória do governo Trump estava longe de ser verdade.
"Eu tenho o maior respeito por você", Menendez disse a Jeffrey, "mas, mesmo que se passe batom em um porco, ele continua sendo um porco. Pode-se tentar chamar uma rendição de vitória, mas não deixa de ser uma rendição." /WASHINGTON POST
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