'Abusos' de Chávez podem lhe custar eleição, diz rival

Henrique Capriles considera que presidente da Venezuela abusa de recursos públicos em campanha eleitoral

PUBLICIDADE

Atualização:

GUIGUE, VENEZUELA - O abuso de recursos públicos pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, para sua campanha de reeleição e a falta de contato pessoal com os cidadãos vai lhe custar caro na eleição de 7 de outubro, afirmou seu rival da oposição, Henrique Capriles.

Veja também:link Eleitores indecisos, 'nem-nem' são alvo de candidatos na Venezuelalink Chávez diz tentar reeleição para que sua revolução seja irreversívellink Oposição promete eliminar venda facilitada de petróleo venezuelanoEm uma entrevista em seu ônibus de campanha, Capriles contrastou a confiança de Chávez nas aparições na TV com sua própria turnê incansável pelo país e disse que o uso de fundos públicos do presidente tornou a eleição um confronto entre Davi e Golias. O governador de 40 anos de idade, escolhido por partidos de oposição da Venezuela como sua melhor esperança para acabar com os quase 14 anos de regime de Chávez no maior exportador de petróleo da América do Sul, disse que o apoio ao líder socialista está desaparecendo. "Eu não espero um quase empate. Nós vamos ter uma vitória retumbante", disse ele à Reuters, correndo entre comícios em cidades pequenas ao redor do lago Valencia, uma região de planícies agrícolas e montanhas com selvas. "Eu nunca perdi uma eleição", acrescentou o confiante Capriles, referindo-se às suas campanhas bem sucedidas ao longo dos últimos 15 anos para se tornar o mais jovem legislador da Venezuela, um prefeito e, em seguida, governador do Estado de Miranda. As pesquisas de opinião estão extremamente controversas na Venezuela e deram resultados muito diferentes ao longo desta campanha. Mas a maioria das pesquisas mais conhecidas dá a Chávez uma vantagem sólida de dois dígitos, embora uma coloque Capriles em um nível bem próximo. Por outro lado, aguns institutos de pesquisa menos conhecidos dão a liderança a Capriles. A oposição acredita que muitos venezuelanos, intimidados pelo estilo autoritário de Chávez e represálias do passado no mercado de trabalho contra aqueles que votaram contra ele, podem estar escondendo suas verdadeiras intenções. Presença X Cartazes Suando bastante e engolindo água após um passeio cansativo em Guigue, um assentamento pobre de ruas movimentadas e pequenas lojas de chineses, Capriles disse ter visitado mais de 150 cidades e vilas desde que a campanha oficial começou. "A presença física bate os cartazes", afirmou Capriles, que espera que sua juventude e vigor transmitam uma mensagem de mudança. "O candidato do governo só é visto em outdoors. Eu estive em mais cidades desde 1 de julho do que ele provavelmente esteve em 10 anos." Chávez, de 58 anos, parecia mais ativo nas últimas semanas do que em qualquer época do ano passado, durante o qual ele foi submetido a duas rodadas de cirurgia e períodos longos de tratamento em Cuba para uma forma não revelada de câncer pélvico. O presidente diz estar completamente curado e retomou tanto seu caráter brincalhão e falante, quanto um cronograma lotado de aparições quase diárias na TV. Ele já participou de mais de uma dúzia de grandes comícios em todo o país, mas normalmente chega em cima de um caminhão antes de falar de um palco, ao contrário de Capriles, que entra em casas e multidões por onde passa. Pesquisas mostram que a maioria dos venezuelanos acredita que Chávez tenha superado sua doença, embora os médicos digam que ninguém pode se declarar livre do câncer até vários anos após a última recorrência. Alguns partidários da oposição céticos acham que o presidente manipulou todo o assunto, em busca de solidariedade, possivelmente a conselho de seu amigo e mentor político, o cubano Fidel Castro. "Eu não quero entrar na especulação", disse Capriles. "Espero que tenha sido uma recuperação completa." Ele, no entanto, brincou que alguém o chamou de "ótimo médico" porque assim que ele tomou as ruas após o início da campanha formal, Chávez pareceu melhorar mais rapidamente. A coalizão de oposição, que agrupa cerca de 30 partidos e organizações de todo o espectro político, está irritada com os longos discursos televisionados de Chávez - que todos os canais locais devem transmitir - e com o que eles alegam ser o uso de dinheiro e equipamentos do Estado para sua campanha. "Todo o abuso, o uso de recursos públicos, as vantagens que ele tem, e o sentido de ‘eu sou o candidato oficial que acredita estar acima dos venezuelanos e se vê igual a Deus', eu acho que tem um custo", disse Capriles. "E em 7 de outubro, vamos ver o custo desse abuso, na derrota que está vindo para o governo."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.