
24 de dezembro de 2010 | 19h36
CARACAS- A máxima autoridade da igreja católica da Venezuela se disse preocupada nesta sexta-feira, 24, com as vinte leis aprovadas neste mês pela Assembleia Nacional que aumentam os poderes do governo e afirmou que o país avança rumo à ditadura.
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"Estamos avançando até uma ditadura", disse o cardeal Jorge Urosa Savino, após expressar preocupação com o pacote de 22 leis aprovadas pelo Congresso nas últimas três semanas, entre as quais uma que dá poderes ao presidente Hugo Chávez para legislar por um ano e meio, entre outras que aumentam o controle estatal sobre a imprensa, bancos, universidades e ONGs.
Sem mencionar Chávez, Urosa disse ao canal de notícias Globovisión que quem dirige o governo deve ter em conta "a responsabilidade grandíssima que terão ante a história e ante Deus, se querem impor uma ditadura totalitária que certamente será algo terrível para a Venezuela".
O religioso recordou que Chávez manifestou sua decisão de levar o país a um regime marxista-socialista e garantiu que as autoridades locais da igreja católica não cessarão sua defesa pelos direitos consagrados na Constituição, mesmo que isso "gere mal estar".
"Se alguém se incomoda porque o Episcopado diz que há presos políticos, se alguém se sente atingido porque pedimos respeito ao direito à informação, lamentamos muito; mas isso é um postulado da Constituição", declarou Urosa.
Chávez minimizou hoje as críticas feitas pela oposição, autoridades eclesiásticas e organizações humanitárias. "Deixe-me trabalhar, que o que eu faço é trabalhar pelo povo", disse o presidente na TV estatal.
O cardeal entrou em conflito com Chávez neste ano após declarar que o país avançava rumo a um "Estado socialista" de sistema "marxista-comunista".
Chávez respondeu as afirmações chamando Urosa de "troglodita" e "mentiroso" e ordenou a revisão de um acordo que o governo venezuelano tem com o Vaticano, que dá prioridade à igreja católica sobre outras igrejas.
Desde que assumiu o poder, em 1999, Chávez tem mantido relações conturbadas com as autoridades católicas locais, a quem acusa de dar as costas aos pobres e apoiar a oligarquia.
De acordo com pesquisas, a cúpula eclesiástica tem uma alta credibilidade no país, onde mais de metade dos 28 milhões de habitantes é católica.
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