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Casal Kirchner sofre dura derrota e perde maioria no Congresso

Metade da população não compareceu às urnas; governo fica sem controle do Parlamento pela 1ª vez em 6 anos

Por Marina Guimarães e da Agência Estado
Atualização:

A presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner e seu marido e antecessor, Néstor Kirchner, sofreram uma dura derrota nas eleições parlamentares realizadas neste domingo, 28, para renovar metade da Câmara (127) e um terço do Senado (24), além dos legislativos provinciais e municipais. O kirchnerismo perdeu a maioria no Congresso e a possibilidade de brigar pela Presidência em 2011. A derrota mais contundente foi no principal distrito eleitoral do país, a Província de Buenos Aires, onde Néstor Kirchner (Frente para a Vitória, do Partido Justicialista) perdeu para o empresário milionário e peronista dissidente Francisco De Narváez (Unión-Pro).

 

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Dados extraoficiais indicavam que cerca de 50% dos argentinos não compareceram às urnas para renovar metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado, na maior abstenção desde a eleição parlamentar de 2001. O baixo comparecimento teria sido acompanhado de um "voto de castigo" ao governo de Cristina Kirchner e ao seu marido, antecessor e ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007).

 

Com 94,49% dos votos apurados, 34,52% eram para De  Narváez e 32,19% para Kirchner. O ex-presidente conseguiu a vaga de deputado pela qual estava brigando, mas não a quantidade suficiente de votos para eleger todos os candidatos de sua lista governista e manter a maioria na Câmara. Sonhando em liderar a maioria na Câmara, o ex-presidente tinha planos para se apresentar às eleições presidenciais de 2011, mas a derrota não só em Buenos Aires, como também nos demais distritos eleitorais importantes do país, o deixa fora dessa disputa, segundo análise do cientista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria.

 

O governo tinha apostado todas as suas fichas em uma vitória na província de Buenos Aires. Considerado como quem detém o poder real na Casa Rosada, Kirchner reconheceu sua derrota em um tom conciliador, pouco visto durante o seu governo, entre maio de 2003 a dezembro de 2007, e durante a campanha a deputado. Mas não abaixou a cabeça: "Perdemos por muito pouco, lutando com dignidade; ganhamos em muitas províncias e estamos no caminho para retomar a iniciativa e aprofundar a governabilidade", disse Kirchner na madrugada dessa segunda-feira aos seus seguidores.

 

"Voltamos a demonstrar transparência aos responsáveis que diziam que haveria fraude; se o peronismo tivesse ganhado por dois pontos diriam que houve fraude; perdemos, perfeito, aceitamos o resultado e não levantamos a bandeira de fraude", afirmou em resposta às suspeitas de fraude denunciadas pela oposição. Kirchner também mandou um recado aos vencedores sobre o apoio à Presidente. "Quando se ganha por ampla maioria, dizem que está em jogo a governabilidade, agora esses setores (oposição) terão que demonstrar que têm maturidade para garantir a governabilidade", reivindicou.

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Em tom eufórico, De Narváez também enviou sua mensagem aos Kirchner. "Queremos sentar em uma mesa com a presidente e com seu gabinete para colaborar", disse nesta madrugada. Ele pediu mudanças na forma do governo Kirchner, marcada pelo confronto com os opositores e pela falta de diálogo com os diversos setores econômicos e sociais do país. Nem Néstor, nem Cristina consultavam os correligionários, muito menos os opositores na hora de tomar decisões.

 

Com a vitória de De Narváez em Buenos Aires, o prefeito da cidade homônima, a capital federal, Mauricio Macri, líder do Proposta Republicana (Pro), desponta como um forte nome para disputar as eleições presidenciais. O Pro também elegeu comodamente sua candidata a deputada pela cidade de Buenos Aires, Gabriela Michetti, que era vice de Macri. Além de Buenos Aires, os candidatos governistas sofreram derrotas nos outros quatro distritos importantes do país: Córdoba, Santa Fe, Mendoza e até na província natal de Néstor, Santa Cruz, berço político dos Kirchner.

 

No coração do reduto político tradicional do casal Kirchner, em Santa Cruz, a vitória foi do Acordo Cívico e Social (ACyS), a coligação de centro-esquerda formada pela União Cívica Radical e a Coalizão Cívica. Com 99% dos votos apurados, a lista encabeçada pelo radical Eduardo Costa, ganhava com 42,5% dos votos, enquanto que os candidatos governistas tinham 41,2%.

Em Córdoba, ganhou a lista encabeçada pelo candidato Luis Juez (Frente Cívico), ex-aliado de Kirchner e arquiinimigo do casal presidencial desde 2007. Em Mendoza, o vice-presidente Julio Cobos saiu fortalecido das urnas com a vitória de seus candidatos, sustentando suas aspirações de chegar à Casa Rosada como presidente.

 

Em Santa Fe, a vitória foi do senador Carlos Reutemann, ex-piloto de Fórmula Um, e pré-candidato à Presidência. Em segundo ficou a lista liderada pelo candidato socialista Rubén Giustiniani (Frente Progressista, Cívico e Social), Giustianiani, apoiado pelo governador e também socialista Hermes Binner, outro pré-candidato presidencial. "Esta eleição foi uma espécie de convenção interna para lideranças presidenciais", afirmou o analista da consultora Poliarquía, Sergio Berensztein.

 

(Com Ariel Palacios, de O Estado de S. Paulo)

 

Texto atualizado às 7h35.

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