BRASÍLIA - A Comissão Econômica Para a América Latina e o Caribe (Cepal) inaugurou neste domingo, 30, seu 33º período de sessões em Brasília e alertou os países da América Latina sobre o risco de uma "nova dependência", não mais do Estados Unidos, mas da China, que se tornou o principal parceiro comercial da região.
"Até o ano 2000, a China era um parceiro menor, mas hoje é um dos principais e, em alguns dos países da região, chegou a tomar o posto dos EUA", disse a secretária executiva da Cepal, a mexicana Alicia Bárcena.
Segundo a secretária executiva, a América Latina e o Caribe devem aproveitar "a experiência acumulada em décadas gloriosas e em outras perdidas" e impedir que se repita com a China o erro que os tornou regiões com uma enorme dependência econômica e comercial dos EUA.
Para isso, é necessário avançar para uma diversificação dos mercados de exportação, mas também em direção a um modelo de desenvolvimento que aposte na inovação e na tecnologia para agregar valor às matérias-primas, que são a maior fonte de riqueza da região, afirmou Alicia.
"A América Latina não pode passar de uma dependência para outra e deve superar a maldição dos recursos naturais, que em diversas épocas e países gerou a chamada 'doença holandesa', como é conhecido o impacto maléfico da exportação de recursos naturais na industrialização do país", disse a secretária executiva da Cepal.
Como exemplo dos efeitos recentes da excessiva dependência, Alicia citou os casos do México e de alguns países do Caribe, que "pagaram caro" pela crise imobiliária gerada em 2008 nos EUA.
A mexicana explicou que, como grandes exportadores de matérias-primas, os países da América do Sul saíram melhor da crise, em parte porque já tinham dado início a uma diversificação de seus mercados, apontando, sobretudo, para a China e para outras nações da Ásia.
No entanto, e embora "as perspectivas de crescimento na China sejam promissoras para os próximos anos", Alicia pediu o fortalecimento também dos mercados regionais, como defesa diante de possíveis turbulências que possam surgir no futuro e para que sejam devidamente antecipadas.
Sobre as turbulências na zona do euro, a secretária reconheceu que o impacto na região ainda não pode ser totalmente medido, mas disse que "requereria sem dúvidas um esforço maior", sobretudo em um momento em que a economia latino-americana começa a recuperar-se da queda de 1,9% que experimentou no ano passado.
Alicia lembrou, além disso, que a América Latina e o Caribe persistem como as regiões com a "pior distribuição de riqueza do mundo" e pediu que a região adote as recomendações feitas pela Cepal em seu documento apresentado neste domingo em Brasília.
O texto será debatido durante os próximos três dias e foi concebido como uma "agenda para a igualdade", que deve contemplar uma "nova equação" entre o Estado, o mercado e a sociedade, segundo Alicia.
"A proposta é mais Estado, um melhor mercado, com normas muito claras, e uma maior participação plena da sociedade nas grandes decisões", disse a secretária executiva da Cepal, que enfatizou que a tarefa de superar as enormes brechas sociais na região "não podem ser deixadas nas mãos do mercado".
No 33º período de sessões da Cepal, que termina na próxima terça-feira, 1º de junho, com uma conferência liderada pelo presidente Lula, participarão, entre outras personalidades, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, e o titular da Secretaria-Geral Ibero-Americana, Enrique Iglesias.