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Chile resgata mineiros em operação histórica

Por CÉSAR ILLIANO E TERRY WADE
Atualização:

A maior parte dos mineiros presos há 69 dias nas entranhas do Chile voltou na quarta-feira a ver a luz do sol e a abraçar seus familiares, num emocionante resgate que deve terminar à noite e entrar para a história. Entre gritos de felicidade, aplausos e festejos, 30 dos 33 mineiros emergiram à superfície, um de cada vez, na diminuta cápsula Fênix, depois de percorrerem 625 metros num túnel escavado na rocha para esse fim. Os trabalhadores ficaram presos na mina San José por causa de um desabamento em 5 de agosto. Durante 17 dias, acreditou-se que eles estavam mortos, até que uma pequena sonda conseguiu chegar à área onde eles se encontravam, trazendo de volta um bilhete que se tornou famoso: "Estamos bem no refúgio os 33". "Nascemos todos de novo. O coração estava me saindo pela boca", comentou Yessenia Segovia ao ver a subida de seu irmão Víctor, que escreveu dezenas de páginas dentro da mina, contando a história da tragédia. Carlos Bugueño, 27 anos, foi o 23o a ser resgatado. Como todos os demais, chegou num traje especial, para enfrentar a drástica diferença térmica, e com óculos escuros, para proteger a vista após o prolongado período na escuridão. "Bem-vindo de volta à vida", lhe disse o presidente Sebastián Piñera, dando-lhe um abraço. Todos os mineiros são levados de maca para um hospital de campanha montado ao lado do poço, e de lá para um centro médico na cidade de Copiapó. Em geral, apresentam boas condições de saúde. Somente um apresentava um quadro de pneumonia e estava sendo tratado com antibióticos, disse a jornalistas o ministro da Saúde, Jaime Mañalich. A operação, acompanhada ao vivo por televisões do mundo inteiro e por milhões de espectadores, pode terminar ainda na quarta-feira, segundo as autoridades. "Estamos avançando ao ritmo de 40 minutos por cada resgate", disse Piñera, otimista. "Talvez o resgate termine antes do que esperávamos, e pode ser que termine hoje, 13 do (mês) 10 do (ano) 10, que soma 33." As equipes de resgate prometem não parar até que o último homem tenha deixado a mina. Mas pouco a pouco o acampamento Esperança vai sendo abandonado, pois os parentes dos mineiros já resgatados seguem para suas casas. Alguns jornalistas também vão guardando seus equipamentos. RESGATE DIPLOMÁTICO A operação de resgate acabou aproximando Chile e Bolívia, países vizinhos que não mantêm relações diplomáticas por causa de uma guerra no século 19, que privou os bolivianos do acesso ao mar. Um dos mineiros é boliviano, e o presidente Evo Morales foi à mina San José para encontrá-lo e para agradecer Piñera pelos esforços. Morales ofereceu casa e trabalho para o mineiro Carlos Mamani, que no entanto ficou de pensar melhor, segundo um dos seus dez irmãos, que viajou numa caravana de 35 parentes de Cochabamba até o hospital de Copiapó. "Ele é um chileno a mais, assim deveríamos ser todos os países, todos irmãos," disse Víctor Zamora, outro mineiro resgatado, referindo-se a Mamani quando ainda era levado para o hospital de campanha. Outro mineiro, Edison Peña, fã de Elvis Presley, recebeu dos Estados Unidos um convite para visitar Graceland, a mansão do cantor morto em 1977. A festa no Chile começou logo depois da meia-noite, quando buzinas, aplausos e sinos soaram no país inteiro para celebrar o "parto da montanha." Depois de respirar ar fresco pela primeira vez em dois meses, o mineiro Mario Gómez, o mais velho do grupo, contou o que viveu aos presidentes do Chile e da Bolívia. "A única coisa que eu queria era chegar em cima. A vida é uma só, e aqui a gente pensa que é preciso mudar. Eu mudei, sou um homem diferente", afirmou. Com um humor indestrutível, Mario Sepúlveda, o segundo a ser resgatado, apareceu com uma sacola amarela, da qual tirou pedaços de pedra que distribuiu como uma espécie de souvenir, inclusive ao presidente Piñera. "Estou muito contente!", gritou Sepúlveda, rindo, socando o ar e abraçando todos os que estavam à sua frente. Mas ele também soube falar a sério. "Estive com Deus e estive com o diabo. Os dois brigaram por mim, e Deus venceu", disse ele numa entrevista coletiva posterior, na qual cobrou mudanças abrangentes para garantir a segurança dos trabalhadores. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elogiou a operação. "Esse resgate é uma homenagem não só à determinação dos trabalhadores de resgate e ao governo chileno, como também para a unidade e a determinação dos chilenos, que inspirou o mundo", afirmou. Ele não foi o único a felicitar o Chile. Piñera recebeu também telefonemas dos seus colegas do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; da Argentina, Cristina Kirchner; do Peru, Alan García; do México, Felipe Calderón; e da Venezuela, Hugo Chávez. (Com reportagem adicional de Antonio de la Jara, Fabián Cambero, Ignacio Badal em Santiago; Juana Casas em Copiapó)

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