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Choques entre polícia e garimpeiros no Peru deixam seis mortos

Atualização:

Seis pessoas morreram no Peru quando a polícia tentou retirar obstáculos colocados por garimpeiros irregulares para barrar estradas. Os trabalhadores protestavam contra a campanha do governo para lhes impor controles ambientais, disseram autoridades nesta segunda-feira, no incidente mais recente de conflitos em torno de recursos naturais. A violência irrompeu no domingo na província de Arequipa, no sul do país, deixando feridos 20 manifestantes e nove policiais nas proximidades de Chala, 600 quilômetros ao sul de Lima. Dois dos mortos eram transeuntes, incluindo um taxista atingido por uma bala perdida e uma mulher que sofreu um ataque cardíaco. A manifestação foi convocada pela Federação Nacional de Mineradores Artesanais do Peru para exigir a revogação de duas leis e um decreto sobre a criação de uma zona de exclusão em Madre de Diós, fronteira com o Brasil, uma das regiões mais contaminadas do país. "Qualquer dia o Brasil pode organizar um protesto contra nós porque tudo o que sai de Madre de Diós termina no Brasil ou termina no rio Amazonas", disse o presidente peruano, Alan García. Nesta segunda-feira, centenas de manifestantes continuavam a bloquear um trecho da principal rodovia entre o Peru e o Chile, provocando engarrafamentos de tráfego nas duas direções. O ministro do Interior, Octavio Salazar, prometeu dissolver as barreiras nas próximas horas. García, cujo mandato vem sendo marcado por choques periódicos em torno de sua política com relação aos recursos naturais, disse que os garimpeiros irregulares precisam pagar impostos e parar de poluir. "Como podemos permitir um garimpo selvagem que não paga impostos, não paga salários adequados, não utiliza equipamentos modernos e continua a contaminar a Amazônia?", disse o mandatário. O Peru é importante exportador de zinco, cobre e ouro e grande importador de mercúrio, a maior parte do qual termina nas mãos de garimpeiros irregulares que o utilizam para isolar ouro de montes de lama e rochas. Os garimpeiros irregulares produzem entre 10 e 20 por cento do ouro do Peru, o sexto maior produtor mundial do metal precioso. Os garimpeiros dizem que as novas medidas, que pretendem limitar o garimpo nos rios e a extração irregular de ouro em reservas naturais, os deixarão sem trabalho e que eles precisam trabalhar para sustentar suas famílias. Grupos ambientalistas acusam os garimpeiros irregulares de ouro de despejar mercúrio tóxico nas florestas e nos rios. Os garimpeiros atribuíram a violência à polícia, mas houve relatos conflitantes da mídia local segundo os quais os manifestantes estariam armados. "A poluição precisa ser atenuada, mas não através da repressão", disse na rádio RPP o diretor da associação nacional peruana de garimpeiros irregulares, Teodulo Medina. Sua associação representa cerca de 300 mil garimpeiros que trabalham em condições inóspitas em centenas de minas informais na costa desértica do Peru, no planalto andino e na bacia amazônica. Os moradores de cidades pobres e isoladas dizem que o presidente Garcia vem promovendo investimentos de grandes mineradoras e petrolíferas estrangeiras, mas fazendo pouco para combater a pobreza, que atinge mais de um terço de todos os peruanos. Duas dúzias de pessoas morreram no ano passado na bacia amazônica peruana quando grupos indígenas rejeitaram leis que visavam atrair bilhões de dólares para a região da floresta em investimentos em concessões de mineração e extração de petróleo. (Reportagem de Patricia Vélez e Marco Aquino)

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