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Confrontos em Sucre fazem quarta vítima; dia segue tranqüilo

Jovem baleado na cabeça durante protestos no sábado morreu nesta segunda-feira; cidade amanheceu calma

Atualização:

Um estudante morreu nesta segunda-feira, 26, em Sucre, capital administrativa da Bolívia, tornado-se a quarta vítima fatal dos confrontos originados pela decisão de aliados do governo em aprovar, à revelia da oposição, o projeto de Constituição do presidente Evo Morales. Veja também: Protestos matam 3; Evo confirma Constituição Líderes pedem fim de protestos Fontes do Hospital Santa Bárbara confirmaram à agência Efe que José Luis Cardozo, de 19 anos, morreu nesta madrugada após ter sido baleado na cabeça no sábado. Além de Cardozo, um policial foi linchado até a morte por uma multidão na madrugada de domingo e outros dois jovens manifestantes morreram, um no sábado e outro no domingo. Alguns veículos de comunicação expressaram dúvidas sobre a morte do agente, identificado como Jimmy Quispe Carazas, pois o corpo não foi apresentado e o linchamento não foi confirmado pela Promotoria ou por outras fontes. O comandante da Polícia Nacional, general Miguel Vasquez, disse na manhã desta segunda que o agente "foi assassinado como um criminoso" - na Bolívia, os linchamentos são muito freqüentes - e que seu corpo foi atirado em um barranco, do qual não pôde ser resgatado. Em entrevista a uma emissora de televisão, o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, disse que soube da morte do agente pela imprensa e que ainda não dispõe de um relatório oficial. Os outros dois mortos nos confrontos de Sucre são Gonzalo Durán, advogado de 29 anos que foi baleado no peito no sábado, e o jovem carpinteiro e estudante Juan Carlos Serrudo, que faleceu no domingo em decorrência de um traumatismo no tórax. Os tumultos também deixaram cerca de 130 pessoas feridas, algumas em estado grave, informaram fontes dos hospitais de Sucre. Apesar de o presidente boliviano, Evo Morales, ter afirmado no domingo que não houve ordens de usar armas de fogo contra os manifestantes, os canais de televisão exibiram imagens de policiais em Sucre com revólveres, pistolas e metralhadoras. Pedido de calma Nesta segunda-feira, as redes de TV locais mostraram imagens da cidade sem policiais, mas com sinais da onda de violência, com dezenas de instalações e veículos oficiais queimados e saqueados. Líderes cívicos de Sucre e o bispo da cidade, o espanhol Jesús Pérez, pediram aos manifestantes que interrompessem os incidentes. O presidente do Comitê Interinstitucional de Sucre, Jaime Barrón, acusou o governo de instigar os protestos e afirmou que o presidente Evo Morales pretende que o caos impere na cidade com a decisão de retirar todos os policiais da cidade e liberar todos os presos. Imagens das redes de TV mostraram várias agressões de policiais a jornalistas e cinegrafistas, assim como de agentes que ajudavam presos a fugir de uma prisão. Segundo o general Vásquez, as alegações de que os presos foram soltas é verdadeira. Segundo ele, no entanto, os policiais estavam ajudando os detentos a escapar de um incêndio. Além disso, o comandante da polícia de Sucre, coronel José Galván, confirmou a retirada dos policiais, que foram enviados para a vizinha cidade de Potosí. Ele disse que três metralhadoras foram roubadas de delegacias e usadas num ataque ao presídio de Sucre, de onde 102 detentos escaparam. Nova Constituição Nos últimos três dias, Sucre é palco de confrontos entre a polícia e manifestantes que se opõem à aprovação em primeira votação de uma nova Carta Magna pela Assembléia Constituinte. As mobilizações começaram na sexta-feira, em rechaço à decisão da base do governo de instalar a Assembléia Constituinte em um colégio militar e aprovar a nova Carta Magna sem a presença da oposição. Evo afirmou que a ratificação do seu projeto da nova Carta Magna está assegurada, já que ele foi aprovado por 136 dos 255 constituintes. Segundo a BBC, o líder da oposição e ex-presidente Jorge Quiroga disse que "é uma verdadeira vergonha" o que ocorreu em Sucre e pediu a intervenção de organizações internacionais no país. Em uma mensagem transmitida em rede nacional pela emissora estatal, Evo declarou que a sua proposta "será referendada e aprovada mediante consulta pública ao povo boliviano". O texto aprovado no sábado estabelece um Estado plurinacional (com respeito às diferentes etnias e culturas), a possibilidade de reeleição do presidente da República, a autonomia das populações indígenas e um Estado comunitário. Apuração 'imparcial' Evo negou ainda todas as denúncias da oposição de que a aprovação seria ilegal e não mencionou o projeto de Constituição ou os mortos nos tumultos. Ele apenas pediu uma investigação "urgente e imparcial" para apurar os responsáveis pelos distúrbios e acusou Quiroga de promover e "prever" a violência em Sucre. O governante disse que a nova Carta Magna garante a autonomia departamental e indígena, assegura a nacionalização dos hidrocarbonetos e declara como "direitos humanos" os serviços básicos de água, energia e telecomunicações, para que não se tornem negócios privados. A Carta também garante, segundo Evo, a luta contra a corrupção, para investigar fortunas suspeitas e coloca a possibilidade de revogar os mandatos dos prefeitos, governadores regionais e do próprio presidente.

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