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Conselho de Defesa se reúne hoje no Chile

Encontro deve contar, pela primeira vez, com a apresença de 12 ministros da Defesa sul-americanos

Por João Paulo Charleaux
Atualização:

Os 12 ministros da Defesa dos países que fazem parte do Conselho de Defesa Sul-Americano estarão reunidos em Santiago do Chile, hoje e amanhã, para discutir uma agenda de 16 pontos que pretende lançar as bases para uma maior articulação das políticas regionais que envolvam suas Forças Armadas.   O conselho foi criado em maio de 2008, a partir de uma proposta do governo brasileiro, e funciona como uma instância da recém-criada União de Nações Sul-Americanas (Unsaul).   Na época de sua criação, a região vivia a ameaça de um conflito armado internacional envolvendo a Colômbia, de um lado, e o Equador e a Venezuela, de outro. As tensões entre os três países haviam surgido dois meses antes, em março, quando as Forças Armadas colombianas realizaram um ataque contra um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território equatoriano. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ordenou a mobilização de suas tropas ao longo da fronteira com a Colômbia, declarando apoio ao Equador num eventual conflito.   Agora, às vésperas do primeiro encontro de ministros de Estado do Conselho de Defesa Sul-Americano, as tensões entre os três países voltaram a surgir depois que o ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, reafirmou publicamente que a Colômbia se dá o direito de atacar guerrilheiros das Farc mesmo fora de suas fronteiras.   Para o ministro da Defesa do Chile, José Goñi, "a criação do conselho não supõe que todas as diferenças ou tensões regionais que possam existir tenham sido superadas", mas sua criação "pode ajudar a manter espaços de diálogo e cooperação, apesar das dificuldades que ocasionalmente possam surgir entre países irmãos". A seguir, a entrevista concedida por Goñi ao Estado:   Declarações recentes do ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, reafirmam a certeza colombiana de que é legal atacar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) mesmo que seus guerrilheiros estejam dentro do território de um país vizinho. Isso demonstra que o episódio que marcou a criação do conselho – quando a Colômbia atacou um acampamento das Farc no Equador, em março do ano passado – pode não ter sido completamente superado? A criação do conselho não supõe que todas as diferenças ou tensões regionais que possam existir tenham sido superadas. Mas esse mecanismo pode nos ajudar a manter espaços de diálogo e cooperação, apesar das dificuldades que ocasionalmente possam surgir entre países irmãos. Neste sentido, o conselho deveria, com o passar do tempo, contribuir para uma identidade sul-americana mais sólida, que é muito necessária hoje, num mundo turbulento onde precisamos mais do que nunca atuar com uma só voz se quisermos influenciar e sermos escutados nos grandes debates sobre a paz e a segurança internacional contemporânea.   Alguns especialistas consideram a criação do Conselho de Defesa Sul-Americano a aliança político-militar mais ambiciosa desde a Operação Condor, nos anos 70. Estamos vendo um progresso nas Forças Armadas do Cone Sul no que se refere aos direitos humanos? Em primeiro lugar, é necessário precisar que o Conselho de Defesa Sul-Americano não constitui uma aliança militar no sentido clássico do termo porque não identifica inimigos externos, nem está concebido para esta finalidade. O que o conselho busca, basicamente, é promover uma aproximação maior e uma colaboração entre nossos países na área de defesa – no contexto da consolidação democrática – naqueles temas em que somos complementares e onde, portanto, existem interesses comuns compartilhados.   Que isso tenha sido proposto pelo Brasil e que o anfitrião do primeiro encontro de ministros seja o Chile é uma feliz coincidência que reflete a amizade histórica e a aproximação entre nossos povos e nossos governos.   O que é importante destacar é que as Forças Armadas já têm mecanismos de consulta e coordenação há muitos anos. Agora, é uma questão de impulsionar uma institucionalidade que permita que as mais altas autoridades de nossos governos democráticos possam dialogar e se coordenar de maneira permanente e, assim, definir as grandes diretrizes do que será nosso trabalho coletivo em nível regional.   Que papel o sr. acredita que o Brasil possa desempenhar em termos de defesa regional? A participação brasileira na libertação de reféns das Farc são um bom exemplo? Não corresponde a mim, como autoridade de outro governo, sinalizar o papel que o Brasil possa ter na defesa regional. Mas não há dúvidas de que – por suas dimensões e por sua liderança – este país irmão é uma peça chave em qualquer estratégia regional que se queira implementar nas áreas de defesa e segurança regional. Aliás, o conselho foi uma iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Defesa Nelson Jobim que, com o esforço concentrado de todos os nossos países, pôde ser instituído em menos de oito meses. Isso demonstra uma vontade política que espero que siga presente também em nossas futuras deliberações de trabalho.

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