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Conselho de Direitos Humanos da ONU recusa hondurenho

Sob pressão do Brasil, seguranças retiram embaixador hondurenho ligado ao governo de Micheletti

Por Jamil Chade , de O Estado de S. Paulo e e Efe
Atualização:

O Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH) decidiu nesta terça-feira, 15, que o diplomata hondurenho Delmer Urbizo, ligado ao governo do presidente de fato do país, Roberto Micheletti, não será aceito no fórum. Para o CDH, apenas um representante do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, pode ocupar o assento do país no órgão.

 

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Em uma manobra de bastidores liderada pelo Brasil, diplomatas ligados ao presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, foram expulsos de uma reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Por trás do episódio - que levou a um impasse de quase um dia na sede de Genebra da organização - estava a batalha envolvendo o reconhecimento internacional do governo golpista.

 

O presidente do CDH, o embaixador belga Alex Van Meeuwen, anunciou que o conflito criado pela representação de Honduras já tinha sido resolvido e que, portanto, o organismo da ONU poderia continuar com os trabalhos interrompidos desde segunda-feira por este motivo. O embaixador Delmo Urbizo tinha sido nomeado pelo Governo de Manuel Zelaya, mas depois expressou sua fidelidade a Micheletti.

 

O Brasil e países latino-americanos se recusavam a deixar a reunião do órgão começar com o embaixador hondurenho pró-Michelleti na sala. Já o diplomata afirmava ser o representante de um governo legítimo, insistindo que não sairia da sala. Ao final do dia, entre gritos e bate-bocas nos corredores e salas da ONU, Urbizo foi acompanhado por seguranças para fora da reunião.

 

Legalmente, o encontro foi apenas suspenso a pedido do Brasil. A participação do diplomata pró-Michelleti na organização será avaliada por assessores legais em Nova York. O hondurenho, porém, foi impedido de retornar à sala e vários diplomatas consideraram a expulsão como fato consumado. "Fui expulso. Colocaram até guardas para me retirar", reconheceu Urbizo.

 

"A orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do chanceler Celso Amorim é de que eles (diplomatas pró-Micheletti) não podem participar", explicou a embaixadora do Brasil, Maria Nazareth Farani Azevedo. Segundo ela, há resoluções e decisões em um número suficiente para impedir que um representante de Micheletti seja aceito em uma reunião da ONU.

 

Hostilizado pelo Brasil

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Inconformado, o hondurenho causou tumulto. "Nós voltaremos", gritou o embaixador aos diplomatas na sala, ao ver que seu microfone tinha sido cortado. Urbizo disse que retornará à ONU após as eleições hondurenhas, marcadas para novembro. "Vão ter de tragar tudo o que disseram. Vão ter de engolir isso. Vou voltar e os colocar em seu lugar", disse Urbizo, em referência ao presidente deposto, Manuel Zelaya.

 

Urbizo responsabilizou diplomatas brasileiros pela manobra. "Fui hostilizado, especialmente pelo Brasil", acusou. O Itamaraty admitiu que a manobra tinha o apoio velado da Casa Branca. A diplomacia brasileira não escondia seu papel na articulação do expurgo do hondurenho. O objetivo brasileiro é isolar o governo golpista e pressionar pela volta de Zelaya, deposto há três meses. "Estão tentando nos estrangular diplomaticamente", disse Urbizo.

 

Diplomatas temiam que a presença de um representante do governo de facto significasse um aval implícito à participação de Honduras na Assembleia-Geral da ONU, que inicia suas atividades no fim do mês.

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