Cristina Kirchner diz que não 'morre' de vontade de se reeleger

PUBLICIDADE

Por GUIDO NEJAMKIS
Atualização:

A presidente Cristina Fernández de Kirchner disse na quinta-feira que não dá a vida para se reeleger para o cargo neste ano, e que já deu à Argentina tudo o que tinha para oferecer - numa declaração que amplia a incerteza sobre sua candidatura na eleição de outubro. "Não estou morta por voltar a ser presidente, rapazes. Já dei tudo o que tinha para dar. Não vão me pressionar. Quero lhes dizer que estou fazendo um imenso esforço pessoal e até físico para seguir adiante", disse a presidente em discurso na periferia de Buenos Aires. Todo o espectro político, empresários, sindicatos e agentes econômicos da Argentina aguardam com grande expectativa a decisão de Cristina, que sofreu um duro golpe pessoal e político no ano passado com a morte do seu marido, antecessor e mentor, Néstor Kirchner. As pesquisas a apontam como líder nas intenções de voto. Em seu discurso, e pela segunda vez em poucos dias, Cristina fez um apelo a sindicatos aliados para que ajudem seu governo, que periodicamente enfrenta duros conflitos por questões salariais, num momento em que a inflação corrói o poder de compra dos trabalhadores. "Quero falar com sinceridade, porque estou cansada de hipocrisias. Estou cansada dos que dizem ajudar e que dão vivas ao nome de Cristina, e que no outro dia fazem exatamente o contrário, para que isto aqui tenha problemas ou desmorone", disse a presidente, com voz embargada. O peronismo - um heterodoxo movimento que inclui desde moderados como Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires, até radicais de esquerda - está coeso no apoio à presidente, razão pela qual sua desistência em disputar um segundo mandato causaria tensões políticas imediatas. A chefe de Estado - que veste luto fechado desde a morte do marido - tem até o final de junho para anunciar sua decisão de disputar ou não o pleito de outubro. Scioli, dono de expressivos índices de popularidade, é citado como possível candidato governista se Cristina decidir não concorrer, mas ele não teria a mesma unanimidade que ela, já que setores esquerdistas do peronismo resistem ao seu nome. A imprensa local cita rumores de que seus filhos estariam pedindo que ela deixe a política para se dedicar mais à família depois da morte do marido, e a própria presidente tem feito repetidas menções à sua tristeza. "Já não quero falar como militante política nem de um partido nem de um setor, quero falar do que todos vocês têm e vão me entender: uma família. A minha - meus filhos e esta humilde mulher - colocamos muito, demos muito, entregamos muito", afirmou ela na quinta-feira. A presidente acrescentou que "um país não pode ser feito somente por um presidente ou presidenta. É preciso responsabilidade e maturidade, sobretudo daqueles que partilham deste modelo e deste projeto." (Reportagem de Karina Grazina e Guido Nejamkis)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.