22 de janeiro de 2010 | 19h30
O ex número 1 da ONU para operações humanitárias, o norueguês Jan Egeland, ataca a entidade, o governo do Haiti e diz que muitos morreram após o terremoto "de forma desnecessária". "Esse é o escândalo real dessa história", afirmou. Nesta sexta-feira, 22, a ONU se defendeu das críticas, indicou que já havia atendido pelo menos 300 mil pessoas e que a ajuda começava de fato a chegar aos mais necessitados. Ainda assim, a entidade reconhece que mil aviões ainda não conseguiram pousar em Porto Príncipe com ajuda enviada por todo o mundo. Esses voos foram colocados em uma lista de espera.
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"Milhares de pessoas morreram sem que isso precisasse ocorrer", afirmou Egeland que, em 2004, comandou a operação na Ásia em relação ao tsunami e chegou a ser mencionado como potencial candidato para o posto de secretário-geral da ONU.
Em sua avaliação, nem a ONU nem o governo haitiano prepararam o país para um desastre natural. "O Haiti é um dos países mais atingidos por desastres naturais e não estava preparado", disse. "A culpa é dos políticos locais, mas também da ONU e das ONGs que não investiram no desenvolvimento do Haiti", atacou. Mas os problemas não param por aí. Segundo ele, "a ajuda não chegou à tempo nem de forma suficiente".
Indignada, a entidade deu respostas duras. "Não podemos dizer que a ajuda não está chegando. As coisas estão melhorando. Há muito o que fazer, mas estamos indo na direção correta", afirmou Elisabeth Byrs, porta-voz da ONU e ex-funcionária de Egeland.
"A ajuda está chegando e nossa estrutura é cada vez melhor para atender as pessoas", alegou. Ela ainda destaca que o porto já funcionará e terá capacidade para 250 containers por dia. O objetivo é de chegar a 350 containeres diários na segunda-feira.
Ela também nega problemas com a República Dominicana. "A cooperação é total e o corredor humanitário entre Santo Domingo e Porto Príncipe funciona", disse.
Obstáculos
Mas os obstáculos são inegáveis, inclusive pela ONU. O combustível prometido para ser entregue na
Byrs reconhece ainda que houve "falta de coordenação". "Isso é um fato. Mas está sendo arrumado. Pode parecer lenta para alguns (a operação). Mas melhora a cada dia. Viemos o mais rápido possível ao resgate. Mas trata-se de uma operação muito grande e que exige muita coordenação. É verdade que alguns não obtiveram ajuda a tempo. Mas a ONU é enorme. Ninguém fracassou. Fizeram o melhor para salvar o máximo de vida possível", argumentou. Ela lembra que apenas um terço do dinheiro pedido pela ONU está em caixa até esta sexta.
Já o Programa Mundial de Alimentos da ONU alerta que as dificuldades de operar no Haiti foram "físicas". "No Haiti, ir do ponto A ao B não é uma linha reta. Mover milhões de toneladas de um local de desastre a outro é algo complexo", afirmou a entidade por meio de sua assessoria de imprensa.
Nesta sexta, depois de uma semana de apelos, o Programa de Alimentos finalmente recebeu 60 caminhões. 691 pontos de obstáculos foram registrados apenas entre aeroporto e cidade.
Mesmo assim, o Programa Mundial de Alimentos já entregou quase três milhões de porções de comida a mais de 200 mil pessoas - a proporção é de três porções por dia e pessoa para cinco dias. Outras 100 mil pessoas receberam ajuda alimentícia de outras entidades humanitárias.
Apesar destes números, a ajuda continua sendo insuficiente. A própria ONU calcula que até dois milhões de pessoas ainda precisam de alimentos. O objetivo agora será o de distribuir dez milhões de porções de alimentos na próxima semana, alcançando 100 mil pessoas por dia.
Na próxima segunda-feira, a Unicef ainda iniciará uma ampla campanha de vacinação, inclusive para tentar evitar surtos de rubéola e outras doenças. 350 mil crianças serão atendidas.
Apesar disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirma que haitianos continuam cruzando a fronteira para a República Dominicana em busca de atendimento de saúde e os hospitais estão transbordando.
Sobre o resgate de sobreviventes dos escombros, Byrs garante que vão continuar até o governo pedir, apesar da redução drástica do número de equipes. "Não será a ONU que dirá que a esperança de encontrar alguém acabou", disse.
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