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Ex-ditador da Argentina enfrenta novo julgamento após 25 anos

Jorge Videla, de 84 anos, está sendo julgado pelo fuzilamento de 30 presos em 1976

Por Efe
Atualização:

BUENOS AIRES- Um tribunal da Argentina começou nesta sexta-feira, 2, a julgar o ex-ditador Jorge Videla pelo fuzilamento de trinta presos em 1976, em um processo considerado por organismos humanitários como o mais importante depois do histórico julgamento das Juntas Militares em 1985.

 

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Junto a Videla, o primeiro dos quatro presidentes da última ditadura (1976-1983), estão sendo julgados outros 24 acusados, entre eles o general Luciano Benjamín Menéndez. Todos eles deverão responder ante ao Tribunal Oral Federal 1 de Córdoba pelos crimes de homicídio qualificado e aplicação de torturas.

 

Os delitos foram cometidos entre abril e outubro de 1976, quando a ditadura fuzilou 30 presos com o falso argumento de que haviam tentado fugir da Unidade Penitenciária de San Martín. As vítimas foram detidas antes do golpe de Estado de 1976, sob acusações de promoverem ações subversivas.

 

Durante a sessão matinal da primeira jornada do processo, na qual foram lidos os crimes da acusação, o ex-ditador fez o uso da palavra, apesar do julgamento estar em uma estância na qual os acusados não podem se pronunciar.

 

Além disso, o tribunal pediu que os familiares dos acusados retirassem uma bandeira argentina que haviam colocado na sala, e também solicitou a parentes de desaparecidos durante a ditadura que tapassem fotografias das vítimas em suas camisetas para evitar "atritos".

 

"Estamos ante um julgamento paradigmático do que foi o terrorismo de Estado", disse o promotor Carlos Gonella antes de ingressar na primeira audiência. "No processo ficará em evidência o consentimento que houve por parte de poderes da sociedade civil que apoiaram e atuaram em consequência", destacou Gonella.

 

O promotor considerou que nessa "cumplicidade" com a ditadura participaram "representantes da Igreja e dos poderes judicial, político e econômico".

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Sonia Torres, membro das Avós da Praça de Maio, destacou a importância do processo porque "cada julgamento é uma chama de esperança para conhecer o destino das crianças sequestradas pela ditadura", que deixou cerca de 30.000 desaparecidos.

 

Videla, de 84 anos e doente de câncer de próstata, volta ao banco de acusados após 25 anos. Em 1985, ele foi condenado a prisão perpétua no julgamento das Juntas Militares, mas em 1990 foi anistiado pelo então presidente Carlos Menem.

 

Imediatamente depois de sua volta ao cárcere, em 1998, um juiz o concedeu prisão domiciliar, pena sob a qual ficou por uma década até ser transferido a uma prisão militar de Campo de Maio, nos arredores de Buenos Aires.

 

Em 2006, um juiz anulou sua anistia e em abril deste ano a Corte Suprema ratificou a decisão. Em agosto, Videla também terá de enfrentar um julgamento na província de Santiago del Estero pelo assassinato de um estudante em 1976.

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