Falsos policiais invadem festa e matam 4 em nova chacina na fronteira com o Paraguai

Vítimas estavam comemorando um aniversário em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, quando o local foi invadido por homens vestindo uniformes camuflados semelhantes ao do Exército do país vizinho.

PUBLICIDADE

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA – Quatro pessoas foram executadas a tiros de pistola e rajadas de fuzil, na noite desta terça-feira, 5, em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, na fronteira do Brasil com o Paraguai. Uma quinta vítima atingida pelos disparos foi internada em estado grave. As vítimas estavam em um salão de festas comemorando um aniversário, quando, às 21h35, o local foi invadido por três homens armados, vestindo uniformes táticos (camuflados) semelhantes ao do Exército nacional paraguaio.

Os atiradores separaram os alvos dos demais convidados, inclusive mulheres e crianças, fizeram com que se sentassem contra uma parede, como se fossem passar por revista, e abriram fogo. Primeiro, os atiradores dispararam os fuzis, depois atingiram as cabeças das vítimas já caídas com tiros de pistola. Todos foram alvejados mais de uma vez. Conforme testemunhas, os atiradores falavam espanhol e se apresentaram como ‘polícia do Paraguai’.

Falsos militares invadiram um salão onde acontecia uma festa de aniversário e mataram quatro pessoas, ferindo uma quinta. As vítimas foram colocadas contra a parede durante a execução. Foto: Sejusp/MS - Divulgação

PUBLICIDADE

No local, morreram Geovani Souza da Silva, de 29 anos, Josimar Cáceres de Oliveira, 31, Luis Vareiro Amarilha, o “Chorão”, de 27, e Venâncio Cabreira, de 39 anos. A quinta vítima, Salim Habib Ramos Almeida Lopes, de 28, ficou ferida e está hospitalizada em estado grave no Hospital Regional de Ponta Porã. A caminhonete possivelmente usada pelos criminosos foi encontrada em chamas, no Rodoanel da cidade.

Os policiais que chegaram ao local encontraram uma cena de horror, com homens caídos em meio a poças de sangue e pessoas em pânico. As polícias brasileira e paraguaia montaram um cerco nos dois lados da fronteira, mas até a tarde desta quarta-feira, 6, nenhum suspeito tinha sido preso. O salão de eventos fica a pouco mais de quilômetro da linha de fronteira, a avenida que separa Ponta Porã de Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Há mais de cinco anos a região vive uma guerra entre facções que disputam as rotas do tráfico internacional de drogas.

O secretário de justiça e segurança pública do Estado de Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira, disse que a chacina pode ter ligação com uma tentativa de homicídio ocorrida dias antes em Pedro Juan Caballero. Todos esses crimes, no entanto, têm como pano de fundo a disputa pelas rotas de tráfico na região, segundo ele. “Este ano, as apreensões de cocaína cresceram 1.100% no estado. Os grupos criminosos que perdem a droga acabam se vingando de supostos rivais ou entram em conflito na busca por rotas mais seguras, o que faz crescer o número de homicídios.” Conforme Videira, o policiamento já foi intensificado ao longo da fronteira, entre Ponta Porã e Mundo Novo. Desde o registro da chacina, as polícias civil e militar ouvem testemunhas e fazem rondas na região, com apoio da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes da Fronteira (Defron). Do lado paraguaio, a Polícia Nacional recebeu relatórios sobre o ataque e mobilizou os contingentes da fronteira.

FILHA DO GOVERNADOR Em 9 de outubro de 2021, uma chacina do lado paraguaio da fronteira, em Pedro Juan Caballero, vitimou quatro pessoas, entre elas a estudante de medicina Haylee Carolina Acevedo Yunis, filha do governador da província paraguaia de Amambay, Ronald Acevedo. As vítimas saíam de uma festa e entravam em um carro quando foram alvejadas por disparos de fuzis e pistolas. Morreram também as estudantes brasileiras Kaline Reinoso de Oliveira, de 22 anos, e Rhannye Jamilly Borges de Oliveira, de 18, que cursavam medicina em Pedro Juan Caballero, além do suposto alvo dos criminosos, Osmar Vicente Alvarez Grance, de 29 anos. Seis brasileiros suspeitos de participar do massacre foram presos, mas as investigações ainda não foram encerradas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.