'Farc querem envolver EUA nas negociações de paz', diz Piedad

Senadora que medeia diálogo chamará parlamentares americanos para ajudar na libertação de outro refém

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Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

A criação de uma zona neutra no Brasil para a negociação de um acordo entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo de Álvaro Uribe está nos planos da senadora colombiana Piedad Córdoba como parte da solução para o conflito em seu país. Em visita a Brasília, a senadora do Partido Liberal, de oposição, trouxe ao Palácio do Planalto sua preocupação com decisões de Uribe que, na visão dela, põem em risco duas ações urgentes: a libertação do cabo Pablo Emílio Moncayo, refém das Farc desde 1997, e a troca de outros 21 militares por guerrilheiros presos. Em entrevista ao Estado, durante sua visita, Piedad também falou sobre como os EUA podem participar do processo de paz na Colômbia.

 

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A mudança de governo nos EUA pode ajudar nas negociações com as Farc? As Farc querem os EUA no processo, conforme constatamos em comunicados internos aos quais tivemos acesso. Na libertação anterior, as Farc solicitaram a presença de parlamentares americanos. Agora, vamos chamá-los a participar na libertação do soldado (Pablo) Moncayo, no processo de troca de prisioneiros e no que vier pela frente.A sra. pediu ajuda logística do Brasil para a libertação de Moncayo pelas Farc? Esperamos as coordenadas das Farc para a entrega de Moncayo nos próximos dias. Queremos repetir a operação bem-sucedida de fevereiro de 2009 (que libertou dois políticos e quatro militares com a ajuda brasileira). Para isso, pediremos ao Brasil que nos forneça helicópteros e uma tripulação militar experiente, capaz de chegar à zona e nos dar garantias de sigilo sobre as informações que obtiverem. Queremos que a operação seja tranquila. Mas, se o governo colombiano não concordar, o Brasil não poderá participar.Por que criar uma zona neutra? Seria muito positivo ter uma zona binacional, na fronteira entre os dois países, onde as Farc e o governo poderiam discutir a troca de militares prisioneiros por presos políticos. Falei sobre esse cenário com o (assessor da presidência para assuntos internacionais) Marco Aurélio Garcia, mas não como um pedido concreto. Faltam garantias do governo colombiano para que a libertação de Moncayo venha a ocorrer?O governo é quem vai autorizar a operação. Mas, para que a libertação seja tranquila, terá de garantir que não haverá operações militares por terra e ar na região. As Farc disseram que entregariam o prisioneiro a mim e ao seu pai, o professor Gustavo Moncayo. No caso da troca dos outros 21 prisioneiros, as Farc também já expuseram como deve ocorrer, embora não tenham ainda precisado quantos guerrilheiros presos devam ser postos em liberdade. A política de Uribe para as Farc está no caminho correto?Nunca houve vontade política para uma solução negociada. Isso só ocorreu com guerrilhas que não tinham o tamanho e o poder das Farc. O "paramilitarismo" não foi desestruturado e age com mais violência. O narcotráfico também tem peso. Em Medellín, choques entre gangues deixam 80 mortos por semana. Isso ocorre também em Cali e em Bogotá. O seu nome foi encontrado em um e-mail no computador de Raúl Reyes, líder das Farc morto em uma operação do Exército colombiano no Equador. Isso não a vincula às Farc? Segundo declarações do ministro da Defesa (Juan Manuel Santos), meu nome apareceu entre outros 900 nos computadores encontrados. A Corte Suprema abriu uma investigação prévia sobre esse fato, ouviu muitas pessoas e ninguém pôde me vincular às Farc. Estou tranquila porque é a Corte Suprema que está investigando, o que me dá certa garantia de objetividade.

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