
25 de março de 2010 | 11h00
HAVANA - O líder cubano Fidel Castro diz que não nutre nenhum sentimento de "animosidade" contra o presidente dos EUA, Barack Obama, mas o considera "um fanático crente do sistema capitalista imperialista" que às vezes fala "bobagens" sobre Cuba, segundo um novo artigo divulgado nesta quinta-feira, 25, pela imprensa cubana.
Em um novo texto da série Reflexões, publicado em uma coluna dos meios de comunicação oficiais, Fidel alterna críticas e elogios ao chefe de Estado americano, que pediu o "fim da repressão" e a liberdade de todos os presos políticos da ilha. "Espero que as tolices que (Obama) às vezes expressa sobre Cuba não ofusquem sua inteligência", escreveu o líder, que não fez citações diretas às recentes declarações de Obama.
NA quarta-feira, um comunicado da Casa Branca classificou como "profundamente preocupantes" os últimos eventos em Cuba, como a morte do preso político Orlando Zapata após 85 dias de greve de fome e a repressão aos protestos dos familiares de 75 dissidentes presos em 2003. Esses eventos, segundo Obama, "ressaltam que, em vez de abraçar a oportunidade de entrar em uma nova era, as autoridades cubanas continuam respondendo às aspirações do povo cubano com o punho fechado".
Para Fidel, de 83 anos, o chefe de Estado americano "é um fanático crente do sistema capitalista imperialista imposto pelos EUA ao mundo". No artigo, o ex-presidente até elogia Obama pela recém-aprovada reforma da saúde, mas não poupa o americano das críticas por ter aceito o Prêmio Nobel da Paz 2009. "Por elementar sentido ético, Obama deveria ter se abstido de aceitar o Prêmio Nobel da Paz, uma vez que já tinha decidido enviar 40 mil soldados a uma guerra absurda no coração da Ásia", disse Fidel, referindo-se ao Afeganistão.
Sobre as ações militares dos EUA no exterior, Fidel diz que a postura de Obama não é em nada diferente da dos presidentes anteriores. "A política militarista, o saque dos recursos naturais e a troca desigual da atual administração com os países pobres em nada se diferenciam das práticas de seus antecessores, quase todos da extrema direita, com algumas exceções", disse o líder cubano.
Fidel também criticou o desempenho de Obama na cúpula sobre a mudança climática de dezembro, realizada em Copenhague (Dinamarca). Segundo ele, os "Estados Unidos, o maior emissor de gases causadores do efeito estufa, não estavam dispostos a fazer os sacrifícios necessários, apesar das palavras melosas ditas antes" pelo presidente dos EUA.
"Apesar disso, não nutrimos nenhum sentimento de animosidade contra Obama, e muito menos contra o povo dos Estados Unidos", escreveu o cubano. "Achamos que a reforma da saúde foi uma importante batalha e um grande êxito de seu governo", admitiu Fidel, que não aparece em público há quatro anos.
O líder cubano, porém, opina que parece "realmente insólito que, só 234 anos depois da Declaração da Independência dos EUA, em 1776, o governo desse país tenha aprovado o atendimento médico para a imensa maioria de seus cidadãos, algo que Cuba estendeu à toda sua população há meio século".
Ainda segundo o artigo, "seria pior se os que protagonizaram as torturas, os assassinatos encomendados e o genocídio ocupassem novamente o governo dos EUA".
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