O governo da presidente Cristina Kirchner desferiu mais um golpe contra o Grupo Clarín, ao declarar a suspensão da fusão entre as empresas de TV a cabo Cablevisión e Multicanal, controladas pelo maior holding multimídia da Argentina.
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Paradoxalmente, a fusão de ambas empresas havia sido autorizada no dia 9 de dezembro de 2007, último da jornada do governo do marido da presidente Cristina, o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007). Na ocasião, Kirchner permitiu que o Grupo Clarín obtivesse o controle de 50% do mercado de TV a cabo na Argentina.
A suspensão da fusão decretada pela comissão terá duração de 60 dias. Nesse período o organismo analisará quais serão os passos a seguir para implementar o fim da fusão.
Os Kirchners estão em pé de guerra com o Clarín desde o início do ano passado, época na qual o grupo de mídia afastou-se do casal presidencial - com o qual havia tido boas relações durante seis anos - e transformou-se na principal fonte de denúncias de casos de corrupção dentro do governo.
Ao longo dos últimos meses, e especialmente desde a derrota nas eleições parlamentares de junho, o governo acusou a imprensa de realizar uma "campanha" contra o casal Kirchner. A presidente Cristina afirmou que é vítima de um "fuzilamento midiático" e indicou que vários setores da imprensa são "golpistas".
Recentemente, o governo conseguiu que o Parlamento aprovasse a polêmica "Lei de Mídia", que implica em graves restrições à atuação dos grupos de mídia. Os diretores da Cablevisión emitiram um comunicado no qual chamam a suspensão de "abusiva e arbitrária". O Grupo Clarín pedirá a anulação da resolução que suspende a fusão.
O Grupo argumenta que fez investimentos nas duas empresas mais além dos planejados originalmente. De um total de US$ 182 milhões previstos inicialmente, o Grupo Clarín investiu US$ 632 milhões nos dois últimos anos. As duas empresas - que também são provedoras de internet - geram 62% do faturamento do Grupo Clarín.
Em setembro, outro organismo do governo, o Comitê Federal de Radiodifusão havia emitido uma resolução negando o pedido de fusão feito dois anos antes. Na época, Kirchner - considerado o verdadeiro poder no governo da esposa - teria ordenado a seus assessores e aliados um peculiar modus operandi contra o Grupo Clarín: "batam até que joguem a toalha".
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Uma pesquisa realizada pela consultoria Mangement & Fit indicou que o ex-presidente Kirchner, deputado federal desde a semana passada, tem uma imagem negativa popular de 62,3%. Logo atrás dele está sua esposa Cristina Kirchner, com 56,9% de imagem negativa.