PUBLICIDADE

Kirchner é eleito secretário-geral da Unasul

Candidatura do ex-presidente da Argentina tem apoio da maioria dos chanceleres do grupo

Atualização:

BUENOS AIRES - Com o voto do Uruguai, o ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner (2003-2007) foi eleito nesta terça-feira, 4, primeiro secretário-geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), durante a reunião extraordinária dos chefes de Estado do bloco, em Campana, província de Buenos Aires. O presidente uruguaio, José Mujica, surpreendeu ao votar a favor de Kirchner, quebrando um veto que havia sido imposto dois anos atrás por seu antecessor, Tabaré Vázquez.

 

 

Até a manhã de terça, as expectativas eram de que Mujica deixaria, por meio de sua abstenção, o caminho aberto a Kirchner. No entanto, o uruguaio argumentou que decidiu "dar prioridade à América do Sul" e à sua integração. "Sem pedir condições e sem que ninguém nos tenham imposto condições, acompanhamos o consenso pela unidade da América Latina, e, com esse gesto, vamos continuar apostando na boa-fé do povo argentino", disse Mujica em seu voto.

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve no evento. Acompanhado pelo assessor da área internacional, Marco Aurélio Garcia, ele desembarcou em Buenos Aires pouco depois da meia-noite.

 

A Unasul foi criada em dezembro de 2004, mas até agora somente quatro países ratificaram a formação do bloco em seus respectivos congressos: Guiana Francesa, Bolívia, Equador e Peru. Chile, Suriname, Colômbia, Venezuela e os quatro sócios do Mercosul - Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai - ainda precisam ratificar o decreto de criação.

 

Indagações

 

A escolha de Kirchner não surpreende, mas provoca indagações, pois o ex-presidente sempre evitou as cúpulas internacionais e as relações diplomáticas. Além disso, Kirchner está sendo investigado pela Justiça por suspeitas de liderar um esquema de corrupção na relação comercial com a Venezuela.

Publicidade

 

"A decisão do governo brasileiro é a de sempre apoiar a Argentina, nosso principal sócio. Como o governo argentino insistiu muito na candidatura de Kirchner, o Brasil a acompanha", explicou um diplomata brasileiro à Agência Estado.

 

Na segunda, o ministro das Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, após a reunião preparatória dos chanceleres, informou que a decisão de propor Kirchner para o posto foi "por consenso" dos 12 países que integram o bloco regional. A resistência ao nome dele se dissolveu com a chegada de José Mujica ao governo do Uruguai. O antecessor de Mujica, Tabaré Vázquez, havia vetado o argentino em 2008, por causa do conflito entre os dois países em torno da construção de uma fábrica de celulose na fronteira.

 

Há duas semanas, o Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia, julgou o litígio entre os vizinhos e definiu que o Uruguai cometeu um erro ao não informar a Argentina sobre a instalação da unidade, mas não deu razão ao pedido argentino de desmontar a fábrica e determinou a mudança de endereço.

 

O assessor especial da Presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia, disse ontem à noite que Kirchner conhece a região e sua escolha pode "manter a Unasul viva". O mandato do secretário-geral da Unasul é de dois anos, mas especula-se que ele ficaria somente um ano no cargo, porque poderia ser candidato à presidência da Argentina em 2011.

 

Outros assuntos

 

Os presidentes vão discutir ainda outros assuntos durante a reunião extraordinária do bloco: o estado de exceção em cinco Estados, declarado pelo presidente Fernando Lugo no Paraguai; o tráfico de drogas na região; o apoio à Argentina na disputa pelas ilhas Malvinas; a relação com Honduras e a postura do Brasil de defender Manuel Zelaya e sua volta ao país; e a continuidade da ajuda ao Haiti e ao Chile, países afetados por terremotos, em janeiro e em fevereiro, respectivamente. Apenas os presidentes do Peru, Alan García, e da Colômbia, Álvaro Uribe, não estão no evento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.