'Leopoldo causa mais dano na prisão', diz mulher de opositor
Mulher de Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular preso há um ano, denuncia que ele sofre tortura e tratamento degradante
Entrevista com
Lilian Tintori
Entrevista com
Lilian Tintori
16 de fevereiro de 2015 | 23h00
O opositor venezuelano Leopoldo López completa amanhã um ano na cadeia. Líder do partido Vontade Popular, ele foi preso sob a acusação de incitar violência nos protestos que convocou contra o governo de Nicolás Maduro. Denominado de “A Saída”, o movimento exigia a renúncia do presidente. Na sexta-feira, a mulher do opositor, Lilian Tintori, denunciou que um “comando militar” invadiu violentamente a cela dele na prisão militar de Ramo Verde. Segundo o relato, documentos que López mantinha foram apreendidos e ele foi colocado em confinamento solitário, sem poder receber visitas, a não ser de seu advogado, por 15 dias. Em entrevista por e-mail ao Estado, Lilian denunciou que seu marido tem sido vítima de tortura física e psicológica. A seguir, os principais trechos.
Em sua opinião, o que pode significar o fato de López estar encarcerado há um ano?
É a prova mais patente de que o regime de Nicolás Maduro é antidemocrático, ineficiente e corrupto. Confirma que os venezuelanos estão submetidos às piores arbitrariedades e não têm seus direitos respeitados em seu país.
Quais as principais dificuldades que ele enfrenta na cadeia?
Esteve isolado 6 meses dos 12 que está na prisão e, durante um total de 5 meses, foi privado de luz solar. Mas, apesar disso, está muito forte, sólido moralmente e mais determinado do que nunca.
Ele sofre ameaças?
Sim. O coronel (Homero) Miranda, que é o chefe militar da cadeia, ameaça ele constantemente de suspender as visitas.
Ele sofre tortura física ou psicológica?
Leopoldo tem sido submetido a diferentes tratamentos desumanos e degradantes. Entraram em sua cela para tirar dele seus pertences. Despertam ele nas primeiras horas da madrugada, às 3 horas nos dias de audiência, violam sua correspondência e ele não pode ter conversas confidenciais com seus advogado. Há alguns meses, os guardas da prisão jogaram excremento e urina em sua cela e cortaram a água e a eletricidade por mais de 12 horas.
A sra. tem receio de que algo pior possa lhe acontecer?
Claro, a situação das cadeias venezuelanas é dramática.
A sra. tem esperança de ver seu marido livre proximamente?
Com certeza. Nunca perdi a fé e a esperança é o que me move. Cada dia desperto dizendo que “hoje é o dia” e dando o melhor de mim para conseguir essa libertação – e poder trazê-lo para casa, junto com nossos filhos Manuela, de 5 anos, e Leopoldo Santiago, de 2 anos.
Se as autoridades venezuelanas dessem ao sr. López a possibilidade de sair da Venezuela em troca de sua liberdade, ele aceitaria? Por quê?
Não, com certeza não. Ofereceram a Leopoldo duas vezes abandonar o país. A primeira, quando o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, veio negociar sua entrega após os protestos de 12 de fevereiro de 2014 – e ofereceu que Leopoldo fosse embora. Ele respondeu que ir embora não era uma opção e a clandestinidade também não, que ele ia enfrentar esse sistema para desmascarar sua injustiça. A segunda vez, quando Nicolás Maduro, em discurso televisionado nacionalmente, disse que Leopoldo podia ser trocado por um preso porto-riquenho que está nos Estados Unidos e ir para os Estados Unidos. Essa não é uma opção. Leopoldo jamais abandonaria seu povo. Prefere estar preso fisicamente e com a alma livre.
López prejudica mais o chavismo dentro ou fora da prisão?
Dentro da prisão, definitivamente, Leopoldo causa mais dano. O governo não parece se dar conta de que mantendo Leopoldo preso e violando sistematicamente seus direitos na prisão deixa em evidência que é um governo transgressor, que tem profundo desdém pelo respeito aos direitos de seus cidadãos. Desde que Leopoldo está preso, ficou evidenciada a ausência do estado de direito, a falta de separação de poderes e independência judicial, todos os fatores que comprometem seriamente a vocação democrática do regime.
Como a sra. vê a atuação internacional pela libertação de López? É suficiente? É eficiente?
É muito importante cada pronunciamento. Cada reconhecimento dessa injustiça fortalece a causa da justiça. As instituições mais respeitadas de direitos humanos – como os diferentes organismos das Nações Unidas, a Anistia Internacional, a Human Rights Watch – e os vários líderes internacionais deram seu apoio irrestrito a sua libertação.
A presidente brasileira, Dilma Rousseff, deveria, em sua opinião, usar sua influência na região para tentar libertar López?
Qualquer pessoa – e mais ainda uma líder da América Latina – está em pleno direito de levantar a sua voz e aproximar-se da região com uma agenda de respeito aos direitos humanos. Creio que não somente a presidente Dilma, mas muitos líderes latino-americanos têm a responsabilidade de definir que tipo de região querem ter no século 21 em matéria de respeito aos direitos individuais.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.