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Lula tentou ligar para Cristina para aconselhá-la

Para Planalto, presidente age como 'irmão mais velho' de colegas latino-americanos

Por Leonêncio Nossa. de 'O Estado de S. Paulo'
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou duas vezes conversar por telefone sobre a crise política na Argentina com a presidente Cristina Kirchner, mas não obteve sucesso. A colega mandou assessores avisá-lo, de forma sutil, que optaria pelo isolamento para repensar as táticas contra os opositores e até aliados que derrubaram no Senado proposta dela de aumento dos impostos agrícolas.   Veja também: Lula tentou falar com Cristina Kirchner, confirma Garcia Argentina suspende o aumento nos impostos agrícolas Após vetar Cristina, vice é recebido como herói em terra natal Entenda a origem da crise entre ruralistas e governo   Na sexta-feira, Lula tentou falar com Cristina pela manhã, mas a assessoria da Casa Rosada alegou que a presidente despachava com o presidente da Lituânia, Valdas Adamkus. À noite, Lula voltou a tentar um contato com Cristina. A conversa não ocorreu, segundo o assessor de Assuntos Internacionais do Planalto, Marco Aurélio García, pela diferença de fuso horário entre Bogotá, onde Lula estava, e Buenos Aires.   Garcia divulgou nota negando que o presidente tenha conversado com Cristina e pedido calma, como noticiaram o jornal argentino El Cronista e a revista Veja. Mesmo sem um retorno de Cristina, o presidente manifestará o apoio dele pessoalmente num encontro dia 4 em Buenos Aires. Nos bastidores, Lula demonstra respeito e carinho por Cristina, o que não ocorreu com o ex-presidente Nestor Kirchner. "O sentimento que o presidente (Lula) nutre em relação a sua colega argentina será reiterado na visita", disse Garcia. O assessor classificou essa relação como "fraterna".   Irmão mais velho   É como um irmão mais velho que observa o arrependimento dos mais novos em não terem aceito seus conselhos que o presidente Lula observa as mudanças nos discursos dos colegas do continente, na avaliação de auxiliares. Depois de anos de tentativas fracassadas para que os líderes vizinhos mais radicais esfriassem os ânimos, Lula avalia agora, segundo interlocutores do Planalto, que os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales, e do Equador, Rafael Corrêa, estão sendo obrigados a amenizar os ataques a governos de direita diante do fortalecimento da oposição que sofrem dentro de seus próprios países.   Assessores do Planalto observam a mudança brusca de comportamento de Chávez logo após o governo colombiano ter apreendido computadores de guerrilheiros com supostas informações sobre possíveis vínculos de Caracas com a cúpula das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Antes disso, Chávez já se mostrava mais aberto aos "conselhos" de Lula para "baixar a bola", segundo os assessores, diante da crise de desabastecimento de alimentos na Venezuela.   Em março, num encontro no Recife, Lula chegou a dizer para Chávez na frente de várias testemunhas, como o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que o colega venezuelano tinha uma equipe de governo ruim e precisava aparar as arestas com Álvaro Uribe, da Colômbia, e com os Estados Unidos. Um Chávez ainda mais calado e circunspecto recebeu Lula em Caracas no mês passado. A pretexto de discutir investimentos da Petrobras em campos petrolíferos da Venezuela, descartados por diretores da empresa, o presidente brasileiro voltou a dar "conselhos" ao colega e manifestar apoio a ele.   Na última sexta-feira, entre um telefonema e outro para Buenos Aires, Lula subia num palanque num estádio de futebol em Riberalta, na Bolívia, para mostrar apoio a Evo Morales, que até recentemente chamava o Brasil de "grande império". Riberalta é a capital de Beni, um dos quatro departamentos bolivianos que aprovaram em referendos maior autonomia em relação a La Paz. Pessoas próximas de Lula relataram que lideranças políticas de Beni só aceitaram o encontro na cidade em respeito ao brasileiro. No próximo dia 10, os bolivianos vão às urnas para dizer se querem a continuidade do governo de Morales e de todos os governadores. O referendo foi proposto pelo próprio Morales numa época de popularidade.   O esforço de Lula agora é para aproximar o presidente do Equador, Rafael Corrêa, de Álvaro Uribe. O presidente brasileiro conversou com Corrêa por telefone na semana passada e com Uribe pessoalmente no último fim de semana, em Bogotá e Letícia. Aos dois, Lula disse que acabar com divergências públicas é fundamental num momento de incertezas na economia mundial. Na avaliação do brasileiro, a demonstração de unidade no continente é um ponto básico para garantir melhores negociações políticas e comerciais nos fóruns com chefes de Estado de países desenvolvidos. Assessores lembram que, há pouco tempo, Lula era uma figura "burocrática" ofuscada pela imagem radical de Chávez, pagando um preço por manter boa relação com governos de diferentes tendência 

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