Morte de dissidente cubano foi acidente, dizem testemunhas

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Por ROSA TANIA VALDÉS
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Sobreviventes de um acidente de trânsito que custou a vida do dissidente cubano Oswaldo Payá negaram nesta segunda-feira versões de que outro carro se chocou contra o deles, o que teria causado o sinistro. Um deles pediu desculpas por ter realizado atividades políticas "ilícitas" na ilha, governada por um regime comunista. Payá, de 60 anos, era um dos mais importantes opositores do governo cubano. Ele morreu em 22 de julho, quando o carro em que estava saiu da estrada e se chocou contra uma árvore na província de Granma, leste do país e a cerca de 800 quilômetros de Havana. Um dos sobreviventes, o presidente da Liga da Juventude Democrata-Cristã da Suécia, Jens Aron Modig, garantiu a jornalistas em Havana que o carro em que viajavam não foi abalroado por outro veículo, como sugeriram parentes de Payá durante o funeral, na semana passada. "Não me lembro de que tenha havido algum outro carro envolvido neste acidente", disse o sueco, de 27 anos, que admitiu ter "vagas lembranças" do choque porque dormiu na maior parte da viagem. Já o motorista do veículo, o espanhol Angel Carromero Barrios, subsecretário de Novas Gerações, do governista Partido Popular da Espanha, admitiu ter perdido o controle ao entrar em um trecho da via que estava em reparos. "Perdi o controle do veículo ... perdi a estabilidade, e a direção já não funcionava. Não pude manter (o controle) o carro. Não me recordo de mais nada", disse Carromero em um breve vídeo transmitido a jornalistas durante a entrevista à imprensa. "Nenhum veículo bateu no nosso pela parte traseira. Simplesmente eu ia dirigindo, houve um solavanco e tomei a precaução que qualquer motorista tomaria." O Ministério do Interior cubano afirmou no sábado em nota à imprensa que, segundo análise de peritos, o acidente ocorreu porque Carromero seguia em excesso de velocidade em uma estrada que estava sendo reparada, não respeitou o sinal de aviso e tomou a "decisão errada" de frear repentinamente em uma superfície escorregadia. Os dois sobreviventes permanecem na ilha. Um funcionário cubano consultado disse que eles continuam detidos enquanto prossegue a investigação e não revelou se foram formuladas acusações contra eles. ATIVIDADE POLÍTICA "ILÍCITA" Aron Modig disse a jornalistas que viajou a Cuba com "instruções" de seu partido para contatar Payá, entregar-lhe 4 mil euros, reunir-se com membros do Movimento Cristão de Libertação para "trocar experiências" e ajudar o dissidente a trasladar-se para outras partes do país. "Entendi que essas atividades não são legais em Cuba e desejaria desculpar-me por ter vindo a este país para realizar atividades ilícitas", afirmou. Ele contou que esta é a sua segunda viagem a Cuba, tendo ido ao país pela primeira vez em 2009, quando se reuniu com economistas e jornalistas independentes, aos quais entregou dinheiro e equipamentos. Em vídeo antes da entrevista, Aron Modig disse que também pretendia se reunir com a filha de Payá, Rosa María, de 23 anos, para organizar uma ala juvenil do movimento fundado pelo pai dela. O governo cubano considera os dissidentes "mercenários" a serviço de potências estrangeiras, especialmente os Estados Unidos. No acidente também morreu o jovem dissidente Harold Cepero, membro do movimento fundado por Payá na década de 1980. Carromero aproveitou o vídeo para enviar uma mensagem ao exterior. "Peço à comunidade internacional que, por favor, concentre-se em me tirar daqui e não em utilizar um acidente de trânsito, que poderia ter ocorrido com qualquer outra pessoa, com fins políticos", declarou. (Reportagem de Rosa Tania Valdés)

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