Mujica, ex-guerrilheiro a um passo da presidência

Candidato da Frente Ampla diz que dará continuidade a governo de esquerda de Tabaré Vazquez

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Por Reuters
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Na década de 1960, Jose Mujica tentou mudar o rumo do Uruguai como um dos líderes do movimento de esquerda. Depois de mais de 40 anos, durante os quais viveu clandestinamente e passou mais de uma década na prisão, aposta em "armas políticas" para ganhar as eleições uruguaias do próximo domingo, 25, e dar à coalizão de esquerda da Frente Ampla um segundo período consecutivo no poder.

 

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Nos últimos anos, Mujica suavizou seu discurso e em maio renunciou ao Movimento de Participação Popular (MPP), um dos grupos mais radicais da coalizão que inclui e membros do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T), a antiga guerrilha urbana à qual pertenceu. "Não creio mais em branco e negro, creio nos tons intermediários. A vida é muito mais complicada e não aceito as dicotomias", disse Mujica, de 74 anos, em uma entrevista a um site de imprensa no Uruguai.

 

O senador e ex-ministro de Finanças lidera as pesquisas de intenção de voto com cerca de 44%, mas não tem a porcentagem necessária - 50% - para sair vitorioso no primeiro turno das eleições presidenciais.

 

Em respaldo ao primeiro governo de esquerda da história do Uruguai, Mujica afirma que se for eleito, seguirá com as políticas do presidente Tabaré Vazquez, reforçando os objetivos de lutar contra a pobreza e melhorar a situação dos trabalhadores e produtores rurais de médio porte.

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Sua forma coloquial de falar, que inclui frequentes exaltações, e um estilo desalinhado de se vestir o fizeram de alvo para críticas de dentro e de fora do universo da política. Seu passado guerrilheiro desperta algumas dúvidas, mesmo que tenha tentado moderar seu impacto com uma imagem mais estilizada e levando ao seu lado como companheiro de legenda o ex-ministro de Economia de Vazquez, Danilo Astori.

 

"Mujica é um personagem que cria grandes amores e grandes ódios, mas receberá o voto dos eleitores frentistas. O problema é a massa indecisa que é o que define essa eleição", afirmou a analista política Teresa Herrera. "Seu grande trunfo está nesse estilo que lhe permite se comunicar de forma muito direta, muito franca, muito plana com o homem comum", explicou o cientista político Gerardo Caetano, do Instituto de Ciência Política do Uruguai.

 

O MLN foi uma guerrilha urbana que atuou na década de 60 e no início dos anos 70 e protagonizou enfrentamentos com a Polícia e o Exército e participou de sequestros e assassinatos. Mujica foi detido em 1970, mas conseguiu escapar em duas ocasiões, em uma das quais levou 100 militantes junto por um túnel cavado de sua cela até uma casa próxima.

 

As forças de segurança acabaram com a guerrilha antes do golpe de Estado, em 1973, quando começou uma repressão contra simpatizantes de esquerda que deixou 200 desaparecidos. Após anos de tortura e cárcere em condições subumanas, os presos políticos foram libertados em 1985, com a volta da democracia ao país.

 

Mesmo sendo uma das figuras da ex-guerrilha e da atual coalizão de esquerda, Mujica iniciou sua vida política em um setor do centro-direitista Partido Nacional, agora seu rival mais próximo, cujo candidato, o ex-presidente Luis Alberto Lacalle, poderá ser seu adversário em um provável segundo turno.

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