Oposicionista Piñera vence eleições presidenciais no Chile

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Por JUANA CASAS E ANTONIO DE LA JARA
Atualização:

O candidato da oposição chilena, Sebastián Piñera, venceu neste domingo o segundo turno das eleições presidenciais do país e pôs fim a 20 anos de governo da centro-esquerda que sucedeu ao ditador Augusto Pinochet. Piñera, o primeiro presidente de direita eleito no país em meio século, conquistou 51,61 por cento dos votos, com 99,2 por cento das urnas apuradas. Com o resultado, ele derrotou o candidato do governo, o ex-presidente Eduardo Frei. Centenas de partidários do empresário, que tem se mostrado aberto a contar em seu governo com ex-colaboradores da ditadura de Pinochet (1973-1990), saíram às ruas da capital Santiago para comemorar. "Demos mais uma vez um exemplo de uma democracia sólida, madura, que é capaz de realizar uma eleição, inclusive uma alternância no governo de forma pacífica e exemplar", disse Piñera à presidente chilena, Michelle Bachelet, que ligou para cumprimentá-lo. Piñera propôs em sua campanha mais incentivos à iniciativa privada para acelerar a recuperação econômica do país depois da crise mundial e reduzir a taxa de desemprego. Sua posição, no entanto, pode sofrer resistência entre sindicatos, e o presidente eleito deve governar com um Congresso fragmentado. "As pessoas queriam uma mudança, queriam respirar depois de 20 anos de governo da Concertação", disse Patricio Acosta, publicitário de 39 anos, que participava das comemorações pela vitória perto de um hotel onde a equipe de Piñera estava reunida. Na região, o empresário vai se somar aos presidentes de centro-direita que governam México, Colômbia e Peru, e que vem tomando distância do venezuelano Hugo Chávez, de esquerda. MUDANÇA HISTÓRICA Mais de 7 milhões de eleitores participaram do segundo turno da votação presidencial. O primeiro turno ocorreu no dia 13 de dezembro. "As pessoas o escolheram democraticamente, e espero que o Chile possa seguir pelo caminho da justiça e do progresso social que vínhamos desenvolvendo nestes 20 anos", disse Bachelet na conversa telefônica que teve com Piñera. Bachelet foi a primeira mulher a governar o Chile ao derrotar Piñera em 2006. A eleição marca o fim dos governos da Concertação, a coalizão de centro-esquerda que recuperou a democracia em 1990, conquistou prosperidade econômica e desenvolvimento social para o país, mas nos últimos anos vinha sofrendo um desgaste e divisões internas. "Hoje vamos embora com a cabeça erguida", disse o ex-presidente Ricardo Lagos, um dos opositores mais firmes de Pinochet, em um discurso no qual fez um apelo para que se abra espaço "às novas gerações". Piñera atraiu eleitores decepcionados com a Concertação, apesar da alta popularidade de Bachelet, que não pode buscar sua reeleição imediata devido à legislação do país. O candidato e empresário de 60 anos defendeu a "mudança", mas analistas diagnosticam poucas alterações nos planos político e econômico. Piñera, segundo a revista Forbes, possui uma fortuna de 1 bilhão de dólares. Ele é um dos controladores da empresa aérea LAN --cujas ações disse que venderia antes de assumir a Presidência-- e também é acionista do popular time de futebol Colo Colo e dono do canal de TV Chilevisión, entre outros investimentos. Analistas avaliam que nada vai alterar muito o rumo de uma das economias mais sólidas da América Latina. "A percepção generalizada é que as coisas não vão mudar muito", disse Daniel Kerner, analista da consultoria Eurasia Group. Piñera assume o cargo de presidente no dia 11 de março por um período de quatro anos e terá nas mãos uma economia em recuperação devido à crise financeira mundial. (Com reportagem de Rodrigo Martínez, Javier López de Lérida, Bianca Frigiani, Alvaro Tapia e Aaron Nelsen)

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