Representantes de Zelaya e Micheletti se reúnem nesta 4ª

OEA participa da mesa de discussões entre emissãrios do governo de facto e do presidente deposto

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Por Redação
Atualização:

Representantes do presidente deposto Manuel Zelaya e do governo de facto, liderado por Roberto Micheletti, se encontrarão nesta quarta-feira, 7, em uma mesa de diálogo impulsionada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) em uma nova tentativa de encontrar uma saída para a crise política no país.

 

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O anúncio foi feito por Micheletti, que chamou formalmente representantes de Zelaya para a discussão. A missão da OEA participará como observadora das negociações. Segundo a organização, as conversas terão como objetivo "promover uma saída pacífica para a crise política". O presidente interino indicou que serão debatidos temas já abordados pelo acordo de San José, proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que atuou como mediador. O diálogo deve ocorrer em um hotel da capital Tegucigalpa. A missão da OEA é comandada pelo secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza. O Brasil enviou seu embaixador na OEA, Ruy Casaes, e o subsecretário de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, também integra o grupo.

 

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Segundo Micheletti, dois principais temas que serão abordados serão o respeito pelos poderes do Estado e anistia serão, sem dar maiores detalhes. "Em princípio, e para conseguir uma interação mais efetiva e um tratamento mais sistemático dos temas, as delegações deverão estar integradas por três representantes designados por cada parte", acrescentou o governante interino, designado pelo Parlamento dia 28 de junho depois que os militares expulsaram Zelaya do país. A missão da OEA "está convidada a participar da cerimônia de instalação da mesa do diálogo e a sustentar conversas bilaterais com as delegações de cada parte", disse Micheletti.

 

Zelaya, que permanece na embaixada do Brasil em Tegucigalpa desde 21 de setembro após retornar de surpresa a Honduras, deve enviar para a mesa de discussões o líder sindical Juan Barahona e seus ministros de Governo e de Trabalho, Víctor Meza e Mayra Mejía. Micheletti estará representado pela ex-presidente da Suprema Corte de Justiça, Vilma Morales, o advogado Arturo Corrales, ex-candidato presidencial do opositor Partido Democrata Cristão, e pelo advogado Armando Aguilar.

 

A OEA afirmou que a mesa de diálogo será instalada ainda nesta quarta, quando o grupo chega ao país. Não há informações sobre a participação da delegação de chanceleres e nem do secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza. Setores empresariais e políticos coincidem que, a menos de dois meses das eleições presidenciais, é preciso que as partes cedam e alcancem um acordo. As eleições são vistas como a maior esperança de solucionar o impasse político e retomar o reconhecimento internacional de Honduras.

 

A missão de chanceleres é a segunda que chega ao país em um esforço para encontrar uma saída para crise. Ela terá como ponto de partida das discussões o Acordo de San José, proposto pelo mediados da Costa Rica, e que conta com 12 pontos, incluindo a anistia política e o retorno de Zelaya ao poder.

 

OEA

 

Na terça-feira, ao final de dois dias de conversas com os diferentes atores da crise, uma delegação de deputados do Parlamento Europeu constatou que Zelaya está disposto a aceitar o Acordo de San José, mesmo com as limitações previstas a sua atuação na presidência. Já Micheletti rejeita 3 dos 12 pontos do acordo, entre os quais o retorno de Zelaya e a convocação de uma Assembleia Constituinte.

 

Os ministros e vice-ministros de Relações Exteriores de oito países membros da OEA devem conversar pessoalmente com Micheletti e Zelaya. De acordo com funcionários da Organização, a missão para tentar pôr fim crise que já dura mais de 100 dias será dividida em três etapas. Inicialmente, os 14 integrantes da comitiva reúnem-se com os emissários de Zelaya e Micheletti, em um hotel de luxo de Tegucigalpa. Depois do almoço, eles vão Casa Presidencial conversar com Micheletti e, finalmente seguem até a Embaixada do Brasil para uma reunião com o presidente deposto. As visitas ao presidente de facto e ao presidente deposto serão fechadas e restritas aos ministros. Nem mesmo o embaixador do Brasil na OEA, Ruy Casaes, participará das reuniões.

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O presidente de facto também tem complicado as negociações com propostas alternativas, como a indicação de um terceiro nome para a presidência, em uma tentativa de ganhar tempo. "A base de uma solução negociada tem de ser o Acordo de San José para que possa haver uma eleição livre e transparente (em 29 de novembro) e a reinserção internacional de Honduras", afirmou o espanhol José Ignácio Salafranca Sánchez, deputado europeu pelo Partido Popular.

 

Da embaixada brasileira, Zelaya dá sinais de que desconfia cada vez mais de seu interlocutor - Micheletti foi seu correligionário no Partido Liberal e o articulador do golpe que o derrubou. Uma das principais preocupações de Zelaya é com as idas e vindas na posição do governo de facto. Zelaya criticou em um comunicado o anúncio da revogação do estado de sítio depois da prisão de 12 manifestantes e do fechamento da Rádio Globo e do Canal 36 de televisão. "Roberto Micheletti continua zombando do povo hondurenho, ao manifestar que revoga o decreto após obter o maior dano possível, reprimindo selvagemente o povo", diz o comunicado.

 

Nas conversas com Micheletti, a delegação europeia chegou a adverti-lo sobre o risco de a UE firmar um acordo que inclui o livre comércio com todos os países da América Central, menos Honduras. Logo após o golpe que depôs Zelaya, Bruxelas decidiu suspender a etapa final da negociação com o bloco centro-americano, que deveria ser concluída em janeiro. Esse é apenas mais um prejuízo para Honduras. O FMI já congelou um aporte de US$ 169 milhões, o Banco Mundial suspendeu crédito US$ 150 milhões e os cortes de ajuda dos EUA significam perda anual de US$ 150 milhões para o país. Na noite de terça, centenas de zelaystas vestidos de preto e com velas marcharam até a embaixada brasileira.

 

(Com Denise Chrispim Marin, enviada de O Estado de S. Paulo, Efe e Agência Brasil)

 

Texto atualizado às 7h50.

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