Sem Chávez, chavista é favorito para eleições de campanha curta e tensa

Ausência. Comoção causada pela morte do líder deve impulsionar candidatura de Nicolás Maduro, mas nenhum dos caciques da revolução bolivariana tem controle suficiente sobre as massas que mobilizam; oposição deve explorar problemas crônicos do país

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Por Redação
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CARACAS - O corpo do presidente venezuelano Hugo Chávez ainda estava exposto para visitação - como deve seguir ao longo desta semana - quando a campanha para eleger seu sucessor ganhou cores mais fortes na sexta-feira. Nicolás Maduro, vice-presidente de Chávez e indicado por ele como seu herdeiro político, tomava posse como presidente encarregado momentos após duras declarações do virtual candidato opositor, Henrique Capriles.Governador de Miranda e candidato derrotado por Chávez em outubro, Capriles acusou o Tribunal Superior de Justiça (TSJ), que emitiu a sentença que deu a Maduro luz verde para exercer a presidência e fazer campanha para as eleições - provavelmente em 14 de abril - ao mesmo tempo, de ter fraudado a Constituição.A resposta de Maduro, ainda durante o discurso de posse - ao lado de outro dos caciques chavistas, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello -, foi imediata: "Advertimos aos setores da ultradireita que não se equivoquem. O povo está nas ruas, de luto, mas disposto a defender as conquistas de sua revolução"."Começam a surgir os sinais de que a campanha que vem nas próximas semanas será tensa e, pela primeira vez em 14 anos, o chavismo se responsabiliza pela ação das massas que estão nas ruas sem a liderança de Chávez", afirmou ao Estado o cientista político e consultor de empresas Luis Rivas. "Nem Maduro nem Cabello tem a influência necessária para manter essas multidões sob controle."A única pesquisa disponível até agora capaz de projetar algo sobre a disputa eleitoral entre Maduro e Capriles, do instituto Hinterlaces, divulgada dia 28, indica que 67% dos venezuelanos se dizem identificados com a revolução bolivariana. Por outro lado, 56% dos entrevistados consideram que o trabalho da oposição tem sido mais negativo do que positivo para a Venezuela.Quase todos os analistas concordam que a comoção nacional pela morte de Chávez deve reforçar ainda mais a votação em Maduro. "É verdadeiramente impressionante a mobilização dos partidários chavistas nos funerais do presidente Chávez", declarou o diretor do instituto de pesquisas Datanálisis, Luis Vicente León, para quem a "mitificação da figura de Chávez vai dificultar a tarefa da oposição".A Mesa da Unidade Democrática (MUD) tem como trunfos para apresentar na campanha os problemas crônicos do país que os 14 anos de chavismo não conseguiram resolver.A inflação projetada para 2013 se aproxima dos 30% - após ter fechado 2012 em 20,1% -, em razão de uma política econômica incapaz de atrair capital estrangeiro, uma taxa de câmbio descontrolada e uma intransponível dependência da receita petrolífera.A violência urbana que cobrou 21 mil vidas em 2012 - um dos índices de criminalidade mais elevados do mundo - tornou-se endêmica e é uma das principais preocupações do eleitor venezuelano.Além disso, o pouco investimento em manutenção e os custos dos subsídios para os programas sociais do chavismo vêm retirando a competitividade da estatal petrolífera PDVSA. Antes de Chávez assumir o poder, a Venezuela extraía cerca de 4 milhões de barris de petróleo por dia. Hoje, com o preço do produto em alta no mercado mundial, a extração está em torno dos 3 milhões de barris por dia.

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