Haitianos retornam de Gros Morne, a 170 km da capital, para Porto Príncipe. Foto: Rodrigo Abd/AP
PORTO PRÍNCIPE- 500 mil haitianos que deixaram a capital do país após o terremoto estão começando a retornar a um labirinto de pilhas de escombros, campos improvisados de refugiados e filas por comida, complicando planos ambiciosos de construir um Haiti melhor.
Haitianos e oficiais estrangeiros esperavam usar a devastação de Porto Príncipe - uma densa expansão de estradas destruídas e favelas em ruínas - para construir uma capital melhor e descentralizar o país.
Cerca de 500 mil pessoas se mudaram para a zona rural nos dias após o tremor, muitos em ônibus pagos pelo governo para retirar os sobreviventes do terremoto do coração da destruição. Centenas de milhares de pessoas estão acampadas em cima dos destroços de suas casas, ou em acampamentos improvisados.
Agora, alguns dos que migraram estão começando a retornar depois de encarar a miséria rural que os enviou de volta a Porto Príncipe.
"Eu não gostei de lá", disse Marie Marthe Juste, enquanto vendia rosquinhas fritas nas ruas de Petionville, depois de retornar de La Boule, a 30 km da capital. "Meus amigos me ajudam aqui. Lá, eu apenas ficava sentada o dia todo. Pelo menos aqui eu posso vender coisas e ganhar um pouco de dinheiro", disse.
O governo está enfraquecido para impedir as pessoas de retornarem à capital, ainda que o primeiro-
ministro haitiano tenha protestado nesta semana contra um influxo de pessoas em Porto Príncipe. "É impossível a volta dessas pessoas antes de a capital ser reconstruída", disse.
O presidente René Préval criou um ambicioso plano para remover edifícios destruídos e retirar a força pessoas de construções instáveis, o "Operação Demolição". "Nós vamos destruir (as edificações) de maneira ordenada e segura", disse um arquiteto membro da equipe de reconstrução do governo, Aby Burn.
A maior parte do plano de reconstrução encoraja haitianos a se mudarem da capital, criando empregos e serviços básicos em outras cidades e vilas. "Nós queremos criar oportunidades para eles também nas cidades secundárias", disse o número 2 da Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA, Dr. Anthony Chan. Os haitianos, contudo, já estão retornando à sua capital destruída.
Alfredo Stein, do centro de pesquisas urbanas da Universidade de Manchester, disse que os membros da equipe de reconstrução precisam reconhecer que as pessoas vão retornar, e precisam trabalhar junto a elas para reconstruir Porto Príncipe. Ao invés de considerar que as pessoas estão atrapalhando, o governo precisa considerar seu retorno como uma oportunidade não somente para reconstruir os tijolos e argamassas, mas também a estrutura haitiana, disse o especialista.
O Haiti planeja construir campos para refugiados fora da capital, mas Stein disse que esses esforços geralmente falham. "Você vai construir guetos longe de onde as pessoas vão precisar reconstruir suas vidas econômicas". "Experiências em outras partes do mundo mostram que, depois de desastres, quando as pessoas são colocadas longe de onde estavam vivendo, os novos lugares se tornam complicados, com muito crime".
O ex-presidente Bill Clinton, em visita nesta sexta ao Haiti, disse que a reconstrução levará meses ou mesmo anos.