Soldados voltam a cercar missão brasileira em Honduras

Centenas de efetivos de segurança estão nos arredores do prédio em que Zelaya se refugiou com a família

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Por Redação
Atualização:

Soldados e policiais antimotim hondurenhos voltaram a cercar nesta quarta-feira, 23, a embaixada brasileira na capital Tegucigalpa, onde o presidente deposto Manuel Zelaya está refugiado, no que ameaça se tornar uma longa disputa que deve agravar a crise do país. Centenas de efetivos de segurança, alguns mascarados e outros portando armas automáticas, cercaram uma área ao redor do prédio da embaixada do Brasil onde Zelaya se refugiou com a família e um grupo partidários.

 

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O governo brasileiro disse que garantirá a proteção do presidente deposto dentro da embaixada e pediu ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas uma reunião de emergência para discutir a pior crise na América Central em décadas. Policiais e militares dispersaram com bombas de gás lacrimogêneo, carros hidrantes e uma antena que emitia um som ensurdecedor os manifestantes que se aglomeravam diante da embaixada brasileira na terça-feira. Os manifestantes pró-Zelaya se defenderam jogando pedras, num conflito que deixou dezenas de feridos e presos.

 

Um toque de recolher, que virtualmente parou a capital, foi ampliado para esta quarta-feira e provocou o fechamento de aeroportos, escolas e comércios.

 

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O presidente de facto, Robert Micheletti, disse que Zelaya pode ficar na embaixada por "5 ou 10 anos, nós não temos nenhum inconveniente que ele viva ali", sinalizando estar preparado para um conflito demorado. O governo de facto se recusou a suavizar sua posição contra a volta de Zelaya. "Zelaya nunca voltará a ser presidente desse país", disse Micheletti em entrevista.

 

Mais tarde, ele disse estar disposto a conversar com Zelaya se ele reconhecer a legitimidade da próxima eleição presidencial marcada para 29 de novembro, mas esclareceu que não negociaria a volta do presidente deposto ao poder. Zelaya não respondeu à oferta de diálogo, mas disse em entrevista à imprensa local que está aberto a conversar. "Se estou aqui, o que custa sentar a uma mesa de diálogo?", disse Zelaya, que, no entanto, duvidou das reais intenções de negociação de Micheletti.

 

Os líderes do golpe, respaldados pelas Forças Armadas, a Suprema Corte e o Congresso, insistem que Zelaya deve ser julgado por violar a constituição para tentar um novo mandato e pediram que o Brasil o entregue às autoridades hondurenhas ou concedam asilo político fora do país.

 

Diálogo

 

O presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, reiterou na noite de terça-feira que a restituição de Zelaya ao poder não é negociável, mas que está preparado para abrir o diálogo desde que ele aceite a realização de eleições presidenciais em novembro, como previsto. "Estou pronto para dialogar com o Sr. Zelaya, desde que ele reconheça explicitamente as eleições presidenciais", disse Micheletti em nota lida durante uma entrevista para a imprensa pelo ministro das Relações Exteriores do governo de facto, Carlos Lopez. A eleição, prevista para 29 de novembro, deve escolher o sucessor de Zelaya.

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Micheletti indicou na nota também que uma comissão internacional para mediar um acordo a fim de solucionar a crise poderia ser integrada por autoridades da Organização dos Estados Americanos (OEA) e que inclusive a Santa Sé poderia estar envolvida nas negociações. A nota reiterou ainda que o governo de facto não pretende invadir a Embaixada do Brasil, onde está Zelaya, mas que o Brasil mantém Zelaya de modo irregular e que ele deve ser entregue à Justiça hondurenha.

 

Zelaya afirmou que a oferta de diálogo feita pelo governante interino é uma "manipulação" e o acusou de não ter vontade de resolver a crise que vive o país. "Tudo isto é uma manipulação", indicou Zelaya em declarações a Rádio Globo e ao Canal 36. Ele acrescentou que "não há vontade de resolver a crise que tem o país" em Micheletti e afirmou que Honduras vive uma convulsão "por causa do golpe de Estado", de 28 de junho.

 

"Devem deixar de manipular a opinião pública, eu vim aqui para que o diálogo seja direto, para que não tenha comparsas, nem nenhum tipo de distúrbios", ressaltou o presidente deposto. Zelaya indicou que ele não pretende retirar a justiça em seu país, perante as "supostas acusações" contra si por supostos delitos de corrupção, incluído o de "traição à pátria", que fez a Promotoria. Acrescentou que responderá a essas acusações no momento em que ele seja chamado, mas que os membros do Governo interino de Micheletti "não podem desconhecer que houve um golpe de Estado". "Ou é que negam que houve um golpe de Estado, o que também é um delito, e também eles têm que responder aos tribunais para responder por esse delito", contou Zelaya, que chegou de surpresa em Honduras 86 dias depois do golpe.

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