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'Testa-de-ferro' substituirá Micheletti nesta semana, diz Zelaya

Candidato independente retira candidatura presidencial; organização pró-deposto pede boicote ao pleito

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Por Redação
Atualização:

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, assegurou no domingo, 8, que o governo de facto pretender substituir nesta semana o presidente, Roberto Micheletti, por um "testa-de-ferro" que dê legitimidade às eleições do dia 29 de novembro. A renúncia de um candidato independente e a decisão de um movimento popular em favor do líder deposto de boicotar o pleito elevam ainda mais a desconfiança sobre a realização da votação.

 

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"Quero denunciar que querem apresentar a renúncia de Micheletti e colocar outro testa-de-ferro lá, para enganar a população mundial dizendo que sai o senhor Micheletti, que põem outro testa-de-ferro para que faça as eleições", disse em declarações à Radio Globo. Zelaya, que permanece na embaixada brasileira em Tegucigalpa desde setembro, afirmou que a mudança será feita ainda nesta semana

 

O candidato independente à presidência, o esquerdista Carlos Reyes, anunciou no domingo a retirada de sua candidatura ao considerar que participar da disputa equivaleria a "legitimar" o golpe contra Zelaya. Reyes, que aparecia como o terceiro na preferência do eleitorado, diz que as condições no país após o golpe não permitem eleições livres.

 

Mas o embaixador dos EUA em Honduras, Hugo Llorens, disse que rejeitar as eleições seria "um erro histórico". A declaração é mais um sinal de que a Casa Branca poderá reconhecer o próximo governo hondurenho mesmo que Zelaya não seja restituído. "Não se pode negar ao povo esse direito (de votar). Isso seria um erro histórico", afirmou. Outros candidatos à presidência, como o deputado César Ham, do partido Unificação Democrática (UD, de esquerda), também cogitaram abandonar a disputa.

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O movimento popular hondurenho que exige nas ruas a restituição de Zelaya pediu neste domingo a seus seguidores para não participarem das eleições mesmo que ele seja restituído, pois seria muito tarde para evitar uma suposta fraude. "Tomamos um acordo em nível nacional (de) não participar do processo eleitoral com restituição ou sem restituição do presidente Zelaya. Não vamos às eleições", anunciou ao finalizar uma assembleia Juan Barahona, um dos coordenadores da Frente de Resistência contra o Golpe de Estado.

 

Micheletti afirmou no fim de semana que está disposto a "respeitar letra por letra, ponto por ponto" do acordo de San José, assinado no último dia 30 com o objetivo de colocar fim à crise política do país. Por meio de um comunicado, Micheletti ressaltou que firmou o documento com "boa fé, confiando chegar à reconciliação nacional e ao fortalecimento da democracia em Honduras".

 

O presidente também comentou o fato de Zelaya ter declarado, na última sexta-feira, que o acordo "fracassou", após os atuais dirigentes hondurenhos montarem um governo de unidade sem integrantes do antigo regime. O presidente de facto se defendeu dizendo que Zelaya não indicou o nome de seus ministros dentro do prazo para a apresentação do novo governo, cujo limite era meia-noite do último dia 6 (o equivalente às 4h do dia 7, no horário de Brasília. "O processo que agora se desenvolve é liderado pela Comissão de Verificação, não para renegociar o acordo, como alguns pretendem fazer, mas para fazer valer o cumprimento do mesmo", destacou Micheletti, no comunicado.

 

"Espera-se que os membros desta alta Comissão de Verificação não tomem partido de nenhuma parte, nem ofereçam declarações que tendam a complicar mais os desencontros e, muito menos, fazer com que uma das partes se retire unilateralmente do acordo", ratificou.

 

O acordo de San José, proposto pelo presidente da Costa Rica e mediador da crise política, Oscar Arias, foi assinado por representantes do governo de facto e do presidente destituído de Honduras, Manuel Zelaya, com mediação de delegações dos Estados Unidos e da Organização dos Estados Americanos (OEA). O texto prevê a formação de um governo de unidade e determina que a restituição de Zelaya - principal motivo de desacordo entre o governo de facto e o deposto - seja decidida pelo Congresso Nacional, com uma prévia análise da Suprema Corte de Justiça.

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