Tropas contêm violência no sul do Peru

Quatro dias após terremoto no litoral do país, gestão da crise começa a funcionar

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Por Roberto Lameirinhas
Atualização:

Quatro dias depois do devastador terremoto de 8 graus na escala Richter, a gestão da situação de emergência do governo peruano começava neste domingo, finalmente, a funcionar. Embora a falta de eletricidade continue mantendo a tensão entre os desabrigados num nível bastante alto, o deslocamento de mais de mil homens da Polícia Nacional e do Exército para as áreas de Pisco, Chincha e Ica - as mais afetadas pelo tremor - melhorou a situação de segurança e conteve a maior parte das tentativas de saque.   Durante a madrugada, especialistas em resgate espanhóis, do grupo Bombeiros Sem Fronteiras, tiveram de suspender os trabalhos de busca de cadáveres sob os escombros em Pisco depois de serem alvos de disparos feitos por desconhecidos. As autoridades da Defesa Civil explicaram que os autores desses disparos são comerciantes que montaram guarda ante as ruínas de seus estabelecimentos para enfrentar os saqueadores. Na escuridão de Pisco, não conseguem distinguir os resgatistas dos ladrões.   Em Lima, um diretor da agência reguladora dos serviços de eletricidade - Organismo Superior de Investimentos em Energia e Mineração -, falando sob condição de anonimato, disse ao Estado que a situação em Pisco não se normalizará antes do fim da semana. "O tremor destruiu as torres das linhas de transmissão e esse é um tipo de reparo que leva tempo", afirmou. Em Cañete, cidade a 170 quilômetros de Lima também atingida pelo tremor, os danos à rede elétrica foram menores e a situação já está normalizada em 98%. Mas em Ica, apenas 40% das casas têm luz.   Água potável, alimentos, medicamentos, roupas e cobertores passaram ontem a chegar com maior freqüência às cidades semidestruídas. Em Pisco, onde 85% das casas desabaram e a situação dos desabrigados é mais dramática, foram instalados dez "assentamentos humanos", que passaram a abrigar mais de 20 mil pessoas em barracas de campanha. Muitos moradores, no entanto, temendo os saques, resistem em abandonar os escombros de suas casas.   O comandante do Exército peruano, general Edwin Donayre, descartou a possibilidade de o governo decretar um toque de recolher, como pedem as associações de comércio das áreas afetadas. "As forças de segurança mantêm totalmente o controle da situação e não há necessidade de medidas mais drásticas", declarou.   Mas o colunista do jornal La República Mirko Lauer, um dos mais importantes jornalistas peruanos, afirma que as autoridades consideram a decretação até mesmo de uma lei marcial, caso a agitação promovida pelos grupos de saqueadores prejudique a distribuição da ajuda. "Se, entre os desabrigados, o governo continuar sendo visto como o bandido do filme e a revolta da população converter-se em agitação, não haverá como evitar uma medida de força", afirmou.   Na capital, Lima, porém, a ação do presidente Alan García em resposta à tragédia recebeu a aprovação de 72% da população, segundo pesquisa do Instituto Apoyo, publicada pelo jornal El Comercio. As medidas de García, que instalou na Base Aérea de Pisco um gabinete de emergência, recebeu elogios também de seu antecessor, o ex-presidente Alejando Toledo.   Garantias   O presidente do Peru, Alan García, prometeu, neste domingo, 19, reconstruir a cidade de Pisco que perdeu 85% de seus edifícios. Autoridades dizem que pelo menos 540 pessoas morreram em cidades do litoral sul peruano.   Ele disse que o governo providenciará casas de dois dormitórios que as famílias poderão, depois, ampliar. O presidente está despachando diretamente da área do desastre desde quinta-feira. "Temos muitas casas e docas de pescadores para reconstruir."   Longas filas surgiram espontaneamente pelas ruas de Pisco neste domingo, quando grupos estatais e privados passaram a estacionar caminhões para distribuir água, roupas e comida. A maior parte do processo parece ter ocorrido de forma ordenada. No sábado, uma multidão atacou um caminhão do Exército quando a carga de biscoitos, doces e papel higiênico se esgotou. No mesmo dia, García havia prometido restaurar a ordem "custe o que custar".   Neste domingo, o presidente declarou que a presença militar na cidade subiu de 400 para 1.200 homens. Dezenas de soldados patrulham a região central, armados com rifles de assalto, e não há mais notícias de tentativa de saque. Muito poucos suprimentos parecem já ter chegado às 80.000 pessoas que, estima-se, estão nas três cidades mais afetadas pelo terremoto. Segundo o governo, aviões que deixaram a área de desastre transportando feridos devem voltar carregados de suprimentos.

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