Ariel Palacios, de O Estado de S. Paulo
BUENOS AIRES- O general Reynaldo Benito Bignone, último presidente de fato da ditadura argentina (1976-83), foi condenado nesta terça-feira, 20, a 25 anos de prisão pelos crimes de roubos armados, sequestros prolongados com violências de 29 pessoas, além de torturas a outros 38 civis durante o regime militar no Campo de Mayo, o maior complexo de detenção e torturas dos anos 70 no país.
O veredicto foi anunciado no tribunal oral da cidade de San Martín, na Grande Buenos Aires. O tribunal determinou que Bignone não desfrutará da prisão domiciliar, já que terá que ir à uma penitenciária comum.
"Falam nesse tal número de 30 mil desaparecidos...mas nunca demonstraram que foram mais de 8 mil", disse Bignone, antes de ouvir a sentença. Na sequência, negou os sequestros de bebês, filhos das desaparecidas: "falam em 500 roubos de bebês, mas não chegam a 30 e nenhum deles foi cometido por militares".
O ex-ditador tentou mostrar a repressão exercida durante o regime como um evento épico, ao exclamar: "A luta contra o terrorismo nos anos 60 e 70 na Argentina foi uma guerra!".
Além de Bignone, foram condenados outros cinco altos oficiais militares e um delegado de polícia por crimes cometidos em Campo de Mayo, o maior complexo clandestino de detenção da ditadura.
Dentro do perímetro de Campo de Mayo funcionavam quatro centros de tortura e uma maternidade clandestina, onde davam à luz as prisioneiras. Após o parto, as mães eram assassinadas, enquanto os bebês eram entregues a famílias de militares ou policiais sem filhos.
Bignone, uma das principais figuras do golpe de 1976, governou a Argentina entre o fim da guerra das Malvinas, em junho de 1982 e a volta da democracia, em dezembro de 1983. Em 1985 foi julgado e condenado à prisão. No entanto, em 1990 foi indultado pelo então presidente Carlos Menem (1989-99).
Em 1999 foi detido graças à uma brecha no indulto, que não contemplava o perdão pelo sequestro de crianças. Em 2004, com a revogação das Leis de Perdão no Parlamento - e a confirmação dessa medida na Corte Suprema em 2007 - novos processos foram abertos contra Bignone. Em janeiro do ano passado foi novamente ao banco dos réus pela acusação de sequestro, torturas e assassinatos de civis realizados em Campo de Mayo.
Em 1983, poucos meses antes da volta à democracia, Bignone ordenou a eliminação dos arquivos da repressão da ditadura, principalmente aqueles que indicavam o paradeiro dos corpos dos prisioneiros políticos.