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Unasul termina com compromisso pela segurança na região

A declaração final da cúpula afirma que 'mecanismos deverão contemplar irrestrito respeito à soberania'

Por Marina Guimarães e Efe
Atualização:

Fortalecer a América do Sul como região de paz foi uma das principais decisões tomadas pelos presidentes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), nesta sexta-feira, na cidade argentina de San Carlos de Bariloche.

 

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Depois de sete horas de debate, os presidentes assinaram um documento no qual se comprometem a "estabelecer um mecanismo de confiança mútua em matéria de defesa e segurança, sustentando a decisão de abster de recorrer à ameaça ou ao uso da força contra a integridade territorial de outro Estado da Unasul". Também ficou decidido que os ministros de Defesa e de Relações Exteriores dos países membros vão se reunir na primeira quinzena de setembro, provavelmente na Ilha Galápagos, no Equador, para avançar nas medidas concretas que visam dar garantias à região.

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Além disso, os presidentes "reafirmam o compromisso de fortalecer a luta e cooperação contra o terrorismo e a delinquência transnacional organizada e seus delitos conexos: o narcotráfico, o tráfico de armas pequenas e leves, assim como a rejeição à presença ou ação de grupos armados à margem da lei". Os chefes dos 12 países da Unasul reafirmaram ainda que "a presença das forças militares estrangeiras não pode, com seus meios e recursos vinculados a objetivos próprios, ameaçar a soberania e integridade de qualquer nação sul-americana e, em consequência, a paz e segurança na região".

 

O documento também estabelece que o Conselho Sul-americano de Defesa vai analisar o texto divulgado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, intitulado "Estratégia Sul-americana. Livro Branco, Comando de Mobilidade Aérea" e realizar uma verificação da situação nas fronteiras e encaminhar os estudos ao Conselho dos Presidentes da Unasul. Por último, o documento determina ao Conselho Sul-americano de Luta contra o narcotráfico a elaboração do estatuto e de um plano de ação.

 

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, classificou o documento de "um avanço" e que a reunião "não foi para tratar dos conflitos entre a Venezuela e a Colômbia, mas sim para lidar com a questão das bases militares". Em entrevista à imprensa brasileira antes de embarcar de volta a Brasília, Amorim disse que "essa questão não vai ser resolvida em apenas um encontro e, por isso, os ministros vão continuar se reunindo". 

  

O documento também instrui o Conselho Sul-americano de Defesa a analisar o texto sobre "Estratégia Sul-Americana. Livro Branco, Comando de Mobilidade Aérea (AMC)", ao qual se referiu o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, durante sua exposição na cúpula.

 

O texto do acordo, que, durante alguns momentos parecia impossível de ser alcançado pelas enormes divergências manifestadas pelos presidentes, é suficientemente amplo para permitir o consenso das posturas mais díspares, lideradas pelo colombiano Álvaro Uribe, por um lado, e os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales, e do Equador, Rafael Correa, por outro.

 

Estes últimos são os maiores críticos ao acordo militar fechado, mas ainda não assinado, pela Colômbia e os EUA.

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Durante a reunião, houve uma série de pedidos para que Uribe apresentasse o texto do acordo a seus parceiros da Unasul, mas o presidente não se referiu ao tema em momento algum.

 

Uribe insistiu em garantir a seus vizinhos de que a utilização das bases colombianas por militares americanos não afetará a estabilidade da região e se limitará a atividades de luta contra o narcotráfico e o terrorismo em seu país.

 

No entanto, não conseguiu convencer a maior parte dos presidentes que participaram da reunião em Bariloche e teve que aguentar duras críticas de alguns dos membros da Unasul, especialmente de Correa e de Chávez.

 

O colombiano tentou tranquilizar também o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que manifestou abertamente sua preocupação pela presença militar americana nas proximidades de áreas de interesse para seu país, como a Amazônia, e pediu a Uribe garantias jurídicas de que o acordo não ameaça a estabilidade da região.

 

"Respeitamos o acordo, mas queremos nos resguardar", disse Lula, que lembrou que não é precisamente a América do Sul a maior consumidora de drogas.

 

Mas, apesar de ter tentado manter um tom conciliador e ter pedido a seus parceiros ajuda para combater o narcotráfico e os grupos paramilitares em seu país, Uribe não aceitou a proposta de Lula, apoiadas por vários outros presidentes, de convocar o líder de Estado americano, Barack Obama, para detalhar qual é a estratégia de seu país para a região.

 

O discurso de Chávez, um dos mais esperados por seu anúncio sobre os preparativos para a ruptura de relações com a Colômbia, se desinflou um pouco quando apresentou um relatório militar dos EUA sobre a região que, na verdade, é público e que, segundo Washington, se trata de planos de emergência e evacuação na zona.

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O boliviano Evo Morales, outro dos presidentes que manteve um discurso mais duro hoje, tinha advertido que não assinaria um documento que não expressasse a rejeição da Unasul à presença de bases militares estrangeiras na região.

 

No entanto, Morales, que reiterou sua proposta de convocar um referendo popular na região sobre as bases na Colômbia, terminou aderindo ao acordo final.

 

Apesar das divergências, a maioria dos líderes coincidiu na necessidade de definir uma "doutrina comum" de defesa, para dar uma saída ao assunto das bases militares na Colômbia e a possíveis casos similares no futuro.

 

Após sete horas de debate, os ânimos estavam tão aquecidos e as posturas se mantinham tão díspares que, minutos antes da aprovação da resolução final, Lula perdeu os nervos e se envolveu em um atrito com Correa, pela forma como o presidente temporário da Unasul conduziu o concorrido plenário da cúpula.

 

Lula, visivelmente incomodado no final, não conseguiu frear a divisão interna do bloco, apesar de seus pedidos de moderação, mas conseguiu arrancar de Chávez um compromisso com o projeto de integração regional e dar um peso específico ao Conselho de Defesa da Unasul, uma de suas principais apostas para a região.

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