Unicef estima que Haiti tem 50 mil crianças 'desacompanhadas'

Cálculo inclui órfãs e crianças perdidas dos pais; adoção deve ser apenas último recurso, segundo Unicef

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Por Jamil Chade e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

Cinco das 33 crianças que o grupo de americanos tentou levar à República Dominicana. Foto: Eliana Aponte/Reuters

 

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GENEBRA- Depois de percorrer hospitais e orfanatos nas principais cidades do Haiti, a Unicef estima que quase 50 mil crianças estejam desacompanhadas no país depois do terremoto. O número dá a dimensão do desafio que a ONU e o governo do Haiti terão de enfrentar para controlar a saída de crianças do país e evitar que ele se transforme em um paraíso para redes de traficantes de menores.

 

Veronique Taveau, porta-voz da Unicef, explica que não se trata de 50 mil órfãos. "Nesse cálculo que fizemos, sabemos que existem órfãos. Mas também incluímos o número de crianças que simplesmente estão desacompanhadas. Isso não quer dizer que elas não têm mais família. Mas que, nesse momento, essas famílias estão desaparecidas ou a criança está perdida", explicou.

 

Nos últimos dias, ganhou destaque internacional o caso de um grupo religioso que estaria levando do

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 Haiti 33 menores, supostamente com o objetivo de salvá-los. Eles foram detidos quando tentavam cruzar a fronteira da República Dominicana, levando crianças que eles disseram ter ficado órfãs por causa do terremoto.

 

Os indícios eram de que nem todas as crianças haviam perdido seus pais. A mãe de cinco das crianças chegou a comparecer à polícia para denunciar que foi convencida por um religioso a entregar seus filhos, com a promessa de que teriam uma vida melhor.

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Jean Claude Pierre, encarregado de negócios do Haiti na ONU, também alerta para o desafio. Segundo ele, apenas crianças que tenham tido seu processo de adoção finalizado antes do terremoto é que poderiam deixar o país. "O restante deve por enquanto ficar, pelo menos até que se estabeleça o destino real de suas famílias", disse.

 

John Holmes, número 2 da ONU, admite que a questão das adoções se transformou em uma "importante preocupação". "A rede de traficantes já existia antes mesmo do terremoto. Agora, esses grupos veem o desastre como uma oportunidade", disse.

 

Segundo ele, a questão dos menores é a prova de que os problemas sociais e de saúde no Haiti não terminarão quando as feridas do desastre estiverem curadas. "Os problemas psicossociais terão de ser lidados", alertou.

 

A Unicef insiste que a adoção deva ser apenas o último recurso e que encontrar parentes dessas 50 mil crianças deve ser a prioridade.

 

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