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Venezuela desvaloriza moeda em ano de contração econômica

Por MARIO NARANJO E ANDY CAWTHORNE
Atualização:

A Venezuela disse na quinta-feira que irá eliminar a taxa de câmbio preferencial de 2,6 bolívares por dólar, uma medida que irá afetar o bolso dos mais pobres e poderá provocar escassez de alguns alimentos, em um país que encerrou o ano com uma contração econômica de 1,9 por cento. A partir de 1o de janeiro, a taxa de câmbio oficial será de 4,3 bolívares por dólar, enquanto os títulos do Sistema de Transações com Títulos em Moeda Estrangeira (Sitme), controlados pelo Banco Central, serão de 5,3 bolívares. A medida é vista por analistas como uma efetiva desvalorização da moeda local. "A taxa de 2,6 será eliminada e permanecerá apenas a de 4,3 a partir de 1o de janeiro", disse à Reuters o presidente do Banco Central da Venezuela (BCV), Nelson Merentes. Ele disse que as operações através do Sitme irão se manter "no máximo de 5,3 (bolívares por dólar)." Desde janeiro deste ano, a Venezuela manteve uma taxa de câmbio oficial dupla de 2,6 bolívares por dólar para a compra de alimentos e remédios e de 4,3 bolívares por dólar para as importações de produtos considerados de luxo pelo governo. "Politicamente, é a coisa certa, desvalorizam agora para não fazê-lo em 2012 (que é ano de eleição) e se assume o custo inflacionário da medida em 2011. Agora, é brutal para o venezuelano comum, porque afeta o que até agora estava controlado, a comida e os remédios", disse Miguel Octavio, do BBO Financial Services. No mercado informal, o dólar era vendido a 8 bolívares por dólar. O ministro do Poder Popular de Planejamento e Finanças, Jorge Giordani, afirmou: "não temos dúvida de que esta decisão terá uma série de implicações em termos da economia nacional em relação aos investimentos em 2011 e 2012." No entanto, ele destacou que "estes efeitos permitirão que cumpramos as metas financeiras que estabelecemos." Para a consultora empresarial Claudia Curiel, a medida é uma desvalorização que vai atingir os mais pobres. "O impacto sobre os preços é automático ... e como afeta os insumos para bens que estão sujeitos a controles de preços, e não se prevê uma revisão imediata, teremos a segunda consequência mais importante, que é a escassez", disse ela. Nas ruas, as pessoas mostraram desconfiança após o anúncio. Edward Rodriguez, vigilante de 21 anos, teme que seu salário "vai ficar na mesma e agora tudo será inacessível", enquanto Esperanza Sarmiento, dona de casa de 55 anos, disse que "afeta muito os pobres, tudo vai subir de preço agora." Analistas aplaudiram a medida com o argumento de que a taxa de câmbio dupla era ineficiente e incentivava a corrupção. (Reportagem adicional de Deisy Buitrago e de Patricia Rondón, em Caracas; e de Ana Isabel Martínez, no México)

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