Venezuela fecha lojas que elevaram preços após desvalorização

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Por NELSON BOCANEGRA
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Autoridades venezuelanas, com apoio de soldados, fecharam temporariamente dezenas de estabelecimentos comerciais que aumentaram seus preços depois de uma desvalorização cambial que provocou uma corrida às lojas, mas que foi aprovada pelo mercado. O presidente do país, Hugo Chávez, anunciou na semana passada a criação de dois tipos de câmbio: o dólar "normal", cotado a 2,60 bolívares, que serve para a compra de bens essenciais, e o dólar "petroleiro", a 4,30 bolívares, que vale para a venda de petróleo e a compra de produtos supérfluos. Desde 2005, o dólar valia 2,15 bolívares no câmbio oficial, embora esteja atualmente a cerca de 6,50 no mercado paralelo. A reforma cambial fortalece o balanço financeiro do país, maior exportador de petróleo da América do Sul, mas pode irritar seguidores do governo caso os preços e a inflação disparem. Os preços de voos internacionais já dobraram, pois as empresas começaram a calcular o dólar a 4,30 bolívares. Pelo menos dois supermercados pertencentes a uma rede colombiana controlada pela francesa Casino foram fechados por causa de aumentos de preços, em um dia marcado por fiscalizações nos estabelecimentos. Logo pela manhã, uma loja de equipamentos de informática foi interditada por guardas armados na localidade litorânea de Guaira. "Encontramos uma lista na qual eles estavam claramente remarcando os preços em até 150 por cento", disse José Useche, inspetor do órgão governamental de apoio ao consumidor. Títulos do governo venezuelano tiveram uma ligeira baixa na terça-feira, mas continuam em seu nível mais alto desde setembro de 2008, após uma forte alta na segunda-feira. O JPMorgan melhorou a cotação dos títulos venezuelanos de "market weight" para "overweight." "A desvalorização cambial é inequivocamente positiva para as contas fiscais e deve limitar a oferta de dívida externa", disse o banco em nota na segunda-feira, acrescentando que a alta do petróleo também influenciou a decisão. Já nas ruas e nos escritórios das empresas estrangeiras, a desvalorização foi mal recebida. Milhares de pessoas aglomeram-se nas lojas para arrematar TVs e computadores importados, temendo que suas economias percam o valor e que os preços disparem. Para acalmar os ânimos, Chávez mobilizou soldados para monitorar os preços em bairros comerciais. Ao todo, 70 varejistas já tiveram de fechar, e as inspeções prosseguia nesta terça-feira. (Reportagem adicional de Sujat Rao em Londres e de Deepa Seetharaman e Walker Simon em Nova York)

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