Venezuela retira pacificamente moradores de maior favela vertical do mundo

Soldados e autoridades da Venezuela começaram a retirar centenas de famílias nesta terça-feira de um arranha-céu de 45 andares que domina o horizonte de Caracas e é considerado a mais alta favela do mundo. O despejo em massa da chamada “Torre de David”, cuja intenção original era ser um centro bancário, mas foi abandonada em 1994 e mais tarde tornou-se a casa de cerca de 3.000 venezuelanos pobres, aconteceu de maneira pacífica. “A necessidade me trouxe aqui, e a torre me deu uma boa casa”, disse Yuraima Parra, de 27 anos, segurando sua filha bebê enquanto soldados ajudavam a carregar suas posses para um caminhão antes do amanhecer.

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Por ANDREW CAWTHORNE
Atualização:
Cerca de 3.000 venezuelanos pobres viviam na "Torre de David" Foto: EFE/MIGUEL GUTIERREZ

“Fiquei lá por sete anos. Vou sentir falta, mas é hora de seguir em frente."

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Os habitantes da torre disseram que as autoridades estavam fornecendo novas casas para eles em Cúa, ao sul de Caracas, em um projeto habitacional do governo - uma das principais bandeiras do finado presidente socialista Hugo Chávez.

Apelidada pelo nome de seu criador, o empresário e criador de cavalos David Brillembourg, a Torre de David era vista por muitos moradores de Caracas como um foco de crimes de gangues e símbolo de "invasões" de propriedades encorajadas na era do presidente Chávez.

Os residentes, no entanto, disseram que o prédio havia se tornado um refúgio em comparação aos bairros violentos da cidade, e se tornado algo como uma comunidade a ser usada como modelo.

Dentro do local havia provas de extrema organização em todos os lugares: corredores varridos diariamente, moradoras que primeiramente chegavam em barracas depois dividiam espaços em apartamentos bem mantidos; regras, itinerários de trabalho e advertências era colocados em murais.

A vida, no entanto, não era fácil.

Ocasionalmente, as pessoas caíam das perigosas bordas nos andares. Não havia elevadores, o que resultava em longas subidas e descidas todos os dias. O fornecimento improvisado de eletricidade e água era um problema.

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A polícia de Caracas não compartilhava a visão de que a comunidade era exemplar, tendo invadido várias vezes o local em busca de vítimas de sequestros.

“As pessoas estão animadas, também. Algumas não queriam deixar Caracas. Mas isso foi tudo discutido e concordado antecipadamente."

O governo do presidente Nicolás Maduro ainda não disse o que fará com a torre, mas um jornal local relatou que bancos chineses estavam a adquirindo para restaurá-la e manter seu propósito original.

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