17 de julho de 2008 | 08h03
O vice-presidente da Argentina, Julio Cobos, disse nesta quinta-feira, 17, que deseja continuar ao lado da presidente Cristina Fernández de Kirchner até o final de sua gestão, apesar de ter vetado no Senado o projeto de reforma tributária sobre a exportação de grãos. Veja também: Senado da Argentina veta projeto de impostos sobre grãos Para base governista, veto de vice é incompreensível "Quero continuar sendo o vice-presidente de todos os argentinos, o companheiro de chapa até 2011 da atual presidente", disse Cobos durante um pronunciamento de mais de 30 minutos ao Senado antes de divulgar seu voto contrário à proposta governista, que acabou com o empate na Câmara Alta. "Este é um dos momentos mais difíceis da minha vida", admitiu o vice-presidente, que afirmou que a decisão foi motivada por suas "convicções" e seu convencimento de que é necessário buscar uma saída que satisfaça a sociedade. Cobos pediu que Cristina apresente uma nova proposta que conte com as contribuições expressadas no tenso debate no Senado, e lamentou a "divisão" que o conflito provocou no país, que se refletiu também nas mobilizações nas ruas de simpatizantes dos dois lados. "Acho que a presidente dos argentinos vai me entender, porque não concordo com uma lei que não seja a solução para este conflito (...) isto não significa que esteja traindo alguém, estou agindo de acordo com as minhas convicções", acrescentou. "Que a história me julgue, peço perdão se estiver errado. Meu voto não é a favor, eu voto contra", concluiu um abatido vice-presidente, que se transformou em uma peça-chave do conflito entre o governo e o campo. O presidente da Federação Agrária, Eduardo Buzzi, elogiou "a coragem e a ação democrática" de Cobos. Durante a noite de quarta-feira, foram ouvidos em vários bairros de Buenos Aires panelaços contra o governo e a favor da postura dos produtores agrários, e as manifestações continuaram após o resultado. O projeto governamental chegou ao Senado após ser aprovado pela Câmara dos Deputados por 129 votos a favor e 122 contra, em uma sessão que foi encerrada no dia 5 de julho e que durou mais de 16 horas. O conflito entre o campo e o governo começou no dia 11 de março, quando o Ministério da Economia ditou uma resolução na qual impôs impostos móveis às exportações de grãos. A rejeição ao novo esquema tributário gerou quatro greves que impediram a comercialização de grãos, além de bloqueios de estradas e desabastecimento de alimentos para a indústria, que causaram milionárias perdas ao país.
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