Zelaya acusa EUA de mudar de posição 'em cima da hora'

Micheletti espera que demais países sigam a Casa Branca e reconheçam eleições previstas para o fim do mês

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Por Redação
Atualização:

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, acusou na quinta-feira, 12, o governo americano de mudar de posição "na última hora", depois que um enviado dos EUA afirmou que as eleições planejadas para o fim deste mês são "parte da solução" para a crise política no país. O presidente do governo de facto, Roberto Micheletti, assegurou que os EUA confirmaram que aceitarão as eleições de 29 de novembro e afirmou que espera que o resto da comunidade internacional faça o mesmo posteriormente.

 

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A reação de Zelaya foi feita logo depois de Micheletti afirmar que a visita do enviado americano lhe deu esperanças de que os EUA poderiam reconhecer a votação de 29 de novembro. Craig Kelly foi ao país para tentar salvar o acordo assinado pelos rivais hondurenhos, que restituiria Zelaya no poder e está pendente no Congresso do país. No fim de sua visita, Kelly afirmou que o governo de Barack Obama acredita que a eleição em Honduras é "parte da solução" para a crise. Zelaya rechaçou as afirmações de Micheletti, dizendo que "as nações do mundo, incluindo os EUA, estritamente querem a restituição e manifestaram condenação ao golpe de Estado".

 

"Os norte-americanos ratificaram, não uma mas várias vezes, que aceitarão o resultado das eleições se são livres e transparentes", indicou Micheletti em entrevista coletiva na Casa de Governo sem a presença de meios internacionais.O governante golpista afirmou que a visita desta semana do vice-secretário adjunto para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado americano, Craig Kelly, lhes deu "muita esperança sobre a posição dos Estados Unidos". "Esse é o grande país irmão, assim (que) temos absoluta confiança (de) que o resultado das eleições vai ser aceito posteriormente pelos demais países", comentou.

 

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Micheletti considerou que apesar da ameaça feita pela maior parte da comunidade internacional de não reconhecer o vencedor do pleito, a votação serão "a solução para os problemas", de Honduras. "Vimos a mudança, não somente nos Estados Unidos, mas em outros países do mundo que em um momento determinado tinham certas dúvidas do que tinha acontecido aqui. No entanto, se estão percebendo que temos a razão e temos muita fé em Deus, o onipotente, para que possamos conseguir com sucesso nossa próxima eleição", acrescentou.

 

Sobre as declarações do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, que havia poucas possibilidades de enviar observadores eleitorais a Honduras ao não haver sido restituído Zelaya, Micheletti disse que "esse senhor um dia diz uma coisa, outro dia diz outra coisa". "Esperamos que mude muito em breve para dizer que sim vão a vir, se não, já temos uma enorme quantidade de observadores de todas partes do mundo, inclusive da Venezuela", asseverou.

 

Sobre a ameaça de boicotar as eleições feita pelos seguidores de Zelaya, Micheletti disse que os opositores ao golpe pretendem trazer gente da Venezuela ou Nicarágua para obstaculizar a votação. "Há uma investigação bastante forte de parte de nosso Exército (...) sobre a pretensão que alguém da Venezuela ou Nicarágua possa vir a tratar de causar problemas a nosso processo eleitoral", declarou. O presidente golpista convidou os cidadãos a votarem no dia 29 de novembro e assegurou que, apesar das ameaças de boicote, garantirá que "vai haver segurança".

 

Sem ajuda até março

 

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Micheletti afirmou que a economia do país pode se sustentar até março do ano que vem sem ajuda internacional, suspensa após o golpe de Estado. Micheletti disse aos jornalistas na Casa Presidencial que baseia sua previsão em um relatório de sua ministra de Finanças, Gabriela Núñez, e que está recebendo "boas mensagens" de organismos internacionais que poderiam retomar sua colaboração financeira.

 

"Perguntei-lhe (a Gabriela) se sem ajudas poderíamos chegar ao final de nossa jornada, falo de 27 de janeiro, e me disse que sim, que não somente ao 27 de janeiro, mas poderíamos sustentar a economia do país até possivelmente março do ano que vem", expressou. Ele disse estar recebendo de alguns organismos financeiros "boas mensagens e isso nos alegra muito porque vai a permitir praticamente continuar com o governo", acrescentou o líder.

 

Por sua parte, Gabriela Núñez disse à rádio HRN que manteve "conversas" com alguns organismos internacionais para que retomem sua cooperação a Honduras, mas não deu detalhes para "respeitar o acordo com eles". A funcionária indicou que o governo golpista financiou com fundos próprios alguns programas sociais e de infraestrutura que recebiam ajuda internacional.

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A comunidade internacional suspendeu desembolsos e a gestão de nova ajuda a Honduras como represália pelo golpe de Estado de 28 de junho contra Zelaya.

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