O presidente deposto de Honduras, José Manuel Zelaya, assegurou na noite desta terça-feira, 14, na Cidade da Guatemala, que "o povo hondurenho tem o direito à insurreição" para expulsar o chefe de Estado interino de Honduras, Roberto Micheletti. "Não deixem as ruas, que é o único espaço que nos tomaram, o povo tem direito à insurreição, à greve, às manifestações", disse Zelaya em coletiva de imprensa, ao lado do presidente da Guatemala, Álvaro Colón.
Zelaya enfatizou: "não me rendi, nem penso em me render. Estamos preparando a minha volta, não lhes direi a hora e nem o dia". "Ninguém deve obediência a um governo usurpador, que toma o poder através das armas. O povo tem o direito à insurreição para se opor às medidas. A insurreição é um processo legítimo que forma parte dos conceitos mais elevados do sentido da democracia", disse o deposto mandatário hondurenho.
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Ainda não se sabe qual efeito as palavras de Zelaya terão sobre a possível retomada das negociações para resolver o impasse político em Honduras. Mais cedo nesta terça-feira, o mediador da crise, o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, disse que as negociações entre Zelaya e Micheletti serão retomadas no sábado em San José, capital da Costa Rica. Arias também pediu a Zelaya, que foi retirado do cargo por um golpe militar no dia 28 de junho, que seja "paciente."
"Eu entendo o desejo do presidente Zelaya de voltar e retomar o cargo de presidente de Honduras o mais rápido possível, mas minha experiência me diz que a pessoa tem de ter um pouco de paciência", disse Arias, que venceu o prêmio Nobel da Paz em 1987 por seus esforços para encerrar as guerras na América Central. "Não é fácil conseguir resultados em 24 horas."
Zelaya, que é reconhecido como o presidente de Honduras por praticamente todos os governos estrangeiros, está claramente frustrado pelo ritmo vagaroso da negociações. "Estamos dando um ultimato ao regime golpista", disse Zelaya, segunda-feira, durante um coletiva de imprensa na Nicarágua. Se o governo interino não concordar em reempossar Zelaya na próxima rodada de negociações, "os esforços de mediação serão considerados fracassados e outras medidas serão tomadas", disse ele, que não revelou quais seriam essa medidas.
O chefe de Estado deposto chegou nesta terça-feira à Guatemala, onde reuniu-se com o presidente Alvaro Colón. "O que está acontecendo em Honduras pode acontecer em outros países do mundo", disse Zelaya mais cedo. "As pessoas estão sendo reprimidas, sufocadas por fantoches civis dos militares que estão tentando atrapalhar o processo democrático". Ele afirmou "eu vou voltar, eu vou voltar."
Durante a cerimônia de posse de um novo ministro do Exterior na segunda-feira, o presidente interino Roberto Micheletti disse que seus delegados estão "prontos para uma nova reunião". A administração Micheletti afirma que Zelaya foi deposto legalmente e recusa-se a devolver o cargo a ele, apesar da condenação internacional do golpe.
A Suprema Corte de Honduras, o Congresso e os militares dizem que depuseram Zelaya legalmente por violação à Constituição. Eles o acusam de tentar estender sua permanência no cargo, mas Zelaya nega, afirmando que apenas queria reformar a Constituição para fazer com que ela servisse melhor aos pobres.