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Zelaya: Lula e Obama demonstram liderança ao condenar golpe

Em entrevista à BBC, líder deposto de Honduras afirma que não renuncia ao direito de regressar a seu país

Atualização:

Manuel Zelaya, o líder deposto de Honduras, crê que os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama, dos Estados Unidos, vêm demonstrando forte liderança na crise hondurenha. Zelaya elogiou em especial as ações mais recentes de Lula e Obama contestando o governo interino de Roberto Michelletti, que se instaurou no poder após o golpe do último dia 28 de junho, quando Zelaya teve a residência presidencial invadida por soldados armados e foi obrigado a embarcar, ainda de pijamas, em um avião com destino à Costa Rica. ''O presidente Lula foi firme em sua posição contra o golpe. Ele fez bastante, cancelou vistos, foi um líder, ao lado do presidente Obama. Se fracassarmos, vai fracassar a democracia. Se triunfarmos, triunfam os povos da América'', disse Zelaya, em entrevista à BBC. Nesta quinta-feira, o Ministério das Relações Exteriores anunciou que o governo brasileiro suspenderá temporariamente, a partir deste sábado, o acordo de isenção de vistos com Honduras, em protesto contra a deposição de Zelaya, o presidente eleito. Com a suspensão, os portadores de passaportes hondurenhos precisarão de visto para entrar no Brasil. Ainda nesta quinta, os Estados Unidos anunciaram a suspensão de uma série de programas de ajuda econômica a Honduras, que fará com que o governo interino deixe de receber um total de US$ 200 milhões. Mas o governo americano não chegou a reconhecer que a deposição de Zelaya pode ser caracterizada como um ''golpe militar'', como desejava o líder afastado de Honduras. Caso adotasse essa medida, os Estados Unidos seriam obrigados, por lei, a suspender toda forma de ajuda econômica ao país centro-americano. A despeito da ampla condenação internacional, unindo extremos como o americano Obama e o venezuelano Hugo Chávez, o governo interino de Micheletti, ex-presidente da Câmara dos Deputados hondurenha, segue aparentemente inabalado. Mas, para Zelaya, isso se explica: "Estamos fazendo tudo pelo processo pacífico, e eles têm as armas, estão reprimindo o povo. Nunca se reverteu um golpe na história de forma pacífica. Este vai ser o primeiro. Não há escola, não há libreto para isso. É a primeira vez que a condenação se dá por aclamação.'' O presidente deposto descarta a importância de grandes manifestações pró-governo interino que foram realizadas nas ruas da capital hondurenha, Tegucigalpa, após o golpe, e não crê ser relevante o fato de parcela significativa da população de Honduras não querer o seu regresso. ''Supondo que isso exista, se for assim, se o presidente Lula tivesse um problema, poderíamos expulsá-lo do país e colocar um presidente interino. Não me parece correto. O Presidente Bush, em seus últimos momentos, tinha uma baixa popularidade. Mas nem por isso o Pentágono pensou em promover a sua deposição.'' Consulta popular Zelaya também descarta o argumento dos envolvidos em sua deposição para justificar o golpe, o de que ele teria desrespeitado as leis do país ao propor uma consulta popular indagando se os eleitores aceitavam a formação de uma Assembleia Constituinte. Críticos argumentaram que essa teria sido uma manobra de Zelaya para tentar disputar um segundo mandato. A Constituição do país só permite um único mandato presidencial e imporia restrições a consultas populares similares à que o líder deposto propunha. ''Isso é falso. Eu estava fazendo uma consulta de opinião pública, como as do (instituto) Gallup. Era só para saber como o povo opinava sobre certas coisas, mas a consulta foi usada como justificativa para o golpe. Da mesma foram que minha amizade com Chávez.'' Pouco após o golpe, o ex-titular da pasta de Cultura no governo deposto, Rodolfo Pastor, disse, em entrevista à BBC Brasil em Tegucigalpa, que o governo de Zelaya tinha como fonte de inspiração muito mais o presidente Lula do que Hugo Chávez. Zelaya disse endossar essa tese. "Estou de acordo com isso. Em Honduras, há um liberalismo social. Não um socialismo. Lula nos visitou e conhece nossas ideias. Sim, temos muita afinidade com Chávez, no amor que ele tem pela América Latina. Mas o povo hondurenho só deve solidariedade a Chávez, pelo apoio que ele nos deu no setor energético, na área de saúde.'' O presidente deposto disse ainda crer na saída diplomática para retornar a seu país e ao poder, a despeito de faltarem pouco mais de dois meses para que sejam realizadas eleições presidenciais em Honduras - pleito que muitas nações já disseram que não irão reconhecer, a não ser que Zelaya possa regressar. Mas caso a diplomacia não funcione, diz ele, ''nós o faremos por meio alternativos'', sem especificar quais seriam estes recursos. ''Não posso fornecer estratégias a meus adversários. Mas voltarei por bem ou por mal. Vamos regressar. Não renuncio a isso. Lá tenho minha família, meus filhos. É lá que quero morrer.'' O presidente deposto acredita que diferentes nações devem adotar um papel ativo em condenar o golpe e defender a sua restituição. ''É preciso acompanhar o movimento em Honduras. Eu chamo à comunidade internacional, ao Brasil, ao Movimento Sem-Terra, aos grupos sociais, para que nos apoiem. O êxito em Honduras será o êxito da América.''  BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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