Zelaya pede que OEA não caia nas 'manobras' de Micheletti

Proposta é apenas um jogo do governo de facto, assim como revogação do estado de sítio, diz líder deposto

PUBLICIDADE

Por Reuters
Atualização:

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, disse nesta terça-feira, 6, que desconfia do diálogo com o governo de facto para uma saída para a crise e pediu a abertura da embaixada brasileira, onde ele está refugiado, para receber tanto partidários quanto adversários. Zelaya ainda pediu aos chanceleres da Organização dos Estados Americanos (OEA), que chegam ao país nesta quarta-feira, 7, que estejam "alertas" para não cair em manobras do governo de facto, liderado por Roberto Micheletti.

 

Veja também:

linkMicheletti revoga estado de sítio

linkMissão da OEA tenta forçar diálogo

linkSituação sanitária na missão começa a se agravar

Publicidade

"Não desconfiamos da delegação, mas sim daqueles que atualmente governam o país. Advertimos aos chanceleres que chegarão a Honduras nas próximas horas para não cair nessas manobras e não colocar em xeque a alta dignidade do povo que representam", afirmou o líder deposto sobre a visita da OEA na quarta, quando será instalado um diálogo nacional, conforme disseram funcionários do governo de Micheletti sem dar mais detalhes sobre quem serão os participantes.

 

Segundo Zelaya, uma dessas "manobras" foi a suspensão na segunda-feira do decreto que suspendia o estado de sítio no país. Segundo ele, "Roberto Micheletti continua enganando o povo hondurenho ao manifestar que está revogando plenamente o decreto, após conseguir o maior dano possível". O decreto permitiu "atacar, destruir, desmantelar e sequestrar as equipes e sequestrar os meios de comunicação que eram a voz do povo ('Rádio Globo' e 'Canal 36')", acrescentou o deposto líder, em seu comunicado.

 

"(Em relação ao) diálogo que eles convocaram, não tenho nenhuma confiança nem credibilidade, me parece que é um jogo a mais, ao qual a comunidade internacional não deve se prestar", disse Zelaya na segunda-feira por telefone. "Para que esse diálogo seja efetivo (...) preciso falar com meus opositores para encontrar o caminho da solução", acrescentou.

 

Zelaya foi expulso de Honduras há cem dias, num golpe militar provocado por suas intenções de alterar a Constituição de modo a poder disputar um novo mandato, o que irritou empresários, políticos e juízes conservadores. O líder deposto voltou clandestinamente há duas semanas, e desde então se abrigou na Embaixada do Brasil, de onde faz campanha para retornar ao poder. Ele disse que pretende ficar o mínimo possível na embaixada, onde estão também sua esposa e dezenas de seguidores. O prédio está cercado por policiais e militares.

 

PUBLICIDADE

Na segunda-feira, o Micheletti revogou um decreto que restringia as liberdades civis, o que elevou as expectativas de um possível diálogo. Durante sua vigência, o governo fechou dois veículos de comunicação simpáticos ao governo deposto. "O decreto foi uma armadilha, nada mais, para cancelar os meios de comunicação que são opositores ao regime (...). (Mesmo com a revogação, as autoridades) não vão abrir esses meios de comunicação", acrescentou Zelaya.

 

Micheletti também admitiu pela primeira vez na segunda a possibilidade da restituição de Zelaya, mas somente após as eleições, como um ponto a ser discutido na negociação. O presidente de facto também sugeriu que uma possível solução para a crise seria a renúncia de ambos à presidência, com a nomeação de um presidente interino, saída que Zelaya rejeitou. "Quem decide quem é o presidente de um país é a maioria do povo, o sr. Micheletti com que propriedade fala em nome do povo, quando foi uma cúpula militar que o colocou (no cargo)", afirmou.

 

Zelaya reiterou seu apoio à proposta do mediador costarriquenho Oscar Arias, que prevê a restituição de Zelaya na presidência e a formação de um governo de unidade nacional. O presidente deposto disse que uma condição para a aceitação do plano de Arias seria que a assinatura se desse na embaixada brasileira, onde afirmou se sentir a salvo das ameaças de morte que teria recebido.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.