O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, disse na quinta-feira, 3, que impreterivelmente voltará a seu país "nos próximos dias" após afirmar que as iniciativas da diplomacia internacional estão se esgotando. A declaração de Zelaya foi feita mesmo com a suspensão da ajuda econômica dos EUA para Honduras, medida que fez com que o governo golpista de Roberto Micheletti declarasse aos americanos que pagará "qualquer preço pela liberdade e pela democracia" e não permitirá o retorno do líder deposto ao país.
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Zelaya garantiu que vai retornar ao seu país para disputar as eleições presidenciais de novembro. "Posso garantir que meu retorno a Honduras é iminente, estou esgotando o uso da diplomacia internacional, mas não renuncio a retornar ao meu país e a concluir o meu mandato", disse ao canal de televisão Telesur, em declarações publicadas no site do veículo.
Zelaya chamou de "satisfatória" a decisão da Casa Branca de congelar a ajuda econômica para Honduras e de não reconhecer o resultado das eleições recentemente convocadas em seu país.
"Washington disse que vai cancelar vistos para membros e simpatizantes dos golpistas; que congelará a ajuda econômica prevista para Honduras, o que implica o cancelamento de muitas obras de infraestrutura; e que não reconhecerá o resultado de eleições infestadas de vícios contra o povo, o que me parece satisfatório", manifestou Zelaya.
O líder deposto reconheceu que será difícil fazer com que os golpistas devolvam o poder, mas lembrou que "ninguém disse que seria fácil".
Resistência
Em resposta ao boicote dos EUA à ajuda que enviara para Honduras, o governo de Roberto Micheletti anunciou à secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que pagará "qualquer preço pela liberdade e pela democracia" do país.
"Não nos apequenaremos diante desta responsabilidade", afirmou o ministro de Governo (Interior) em Honduras, Oscar Matute, em carta enviada a Hillary "com a instrução" do atual presidente hondurenho, Roberto Micheletti.
"Que toda nação saiba que pagaremos qualquer preço, carregaremos qualquer carga, assumiremos qualquer dificuldade, apoiaremos qualquer amigo e nos oporemos a qualquer inimigo para assegurar a sobrevivência e o êxito da liberdade de nosso povo e da democracia", afirmou Matute.
"A luta heroica de nosso povo por preservar seus valores nacionais, espirituais e morais nos levou à atual conjuntura política", disse o ministro hondurenho à chefe da diplomacia americana.
Reconhecimento
Os EUA indicaram na quarta-feira que não reconhecerão as eleições presidenciais de Honduras, marcadas para novembro, e formalizaram o corte de US$ 35 milhões em assistência ao país, que já havia sido suspensa. O anúncio foi feito após o encontro de Zelaya e Hillary em Washington.
O governo americano, porém, manteve sua posição ambígua em relação a Zelaya, e não declarou de forma taxativa que sua volta ao poder seja essencial para que a eleição hondurenha seja legítima. Tampouco classificou a destituição de Zelaya como um "golpe militar", outra das reivindicações que o presidente deposto havia feito a Hillary, o que levou o hondurenho a protestar contra a ineficácia da atuação internacional na crise de seu país.
Zelaya foi derrubado em 28 de junho, quando foi posto por militares em um avião e mandado, ainda de pijama, para a Costa Rica. O governo de facto, liderado por Roberto Micheletti, tem rejeitado as propostas de mediação do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, endossadas pelos EUA. As propostas pedem o retorno de Zelaya, entre outras exigências.
No comunicado do Departamento de Estado, o porta-voz Ian Kelly afirma que "neste momento, não poderíamos apoiar o resultado das eleições marcadas". Depois, questionado pelo Estado se a volta de Zelaya era condição inegociável para que a eleição fosse considerada legítima, um alto funcionário do governo tergiversou.
"A frase da declaração foi muito estudada, nós dizemos que, no momento, não poderíamos apoiar a eleição. Não se trata da defesa do presidente Zelaya, mas da democracia na região."
As medidas dos EUA ficaram muito aquém das adotadas por outros países e das que reivindicava Zelaya. Países como Brasil, México e Chile já declararam que não reconhecerão as eleições de novembro, caso Zelaya não seja restituído ao poder. Os EUA deixaram aberta a possibilidade para outros tipos de solução. A Casa Branca também não fez nenhuma condenação pública sobre supostos abusos dos direitos humanos em Honduras.