Paul Volcker é símbolo do aperto financeiro

Ex-presidente do Fed atuou ativamente na crise latino-americana dos anos 1980

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Por Fernando Dantas
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Do alto de seus 81 anos e 2 metros de altura, Paul Volcker é uma figura emblemática do establishment financeiro americano e seu prestígio só fez crescer ao longo dos últimos anos. Defensor do Partido Democrata, ele foi nomeado pelo então presidente Jimmy Carter para o cargo de presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, em 1979. Veja também: Sejam responsáveis', recomenda Paul Volcker ao Brasil Paul Volcker assume novo conselho anticrise Barack Obama assume risco de agir antes da posse O gabinete do presidente eleito Volcker foi logo avisando que iria pegar pesado na política de juros, mas Carter manteve sua indicação. Ele foi mantido no posto também pelo sucessor republicano de Carter, Ronald Reagan, que posteriormente substituiu Volcker, ao fim de seu segundo mandato, por Alan Greenspan. O momento mais polêmico da carreira de Volcker foi o fortíssimo aperto monetário nos EUA promovido por ele logo depois de assumir o Fed, em agosto de 1979. Os Fed Funds, a taxa básica de juros, saiu de uma média mensal de 10,94% para um pico de 19,1%, em junho de 1981, chegando a superar 20% em alguns momentos. Inflação A causa principal da drástica elevação dos juros foi a inflação americana, que chegou a 13,5% em 1980. Com influência das teorias monetaristas em voga na época, Volcker controlou a oferta de dinheiro, que foi a razão do salto dos juros. Mais tarde, admitiu que o monetarismo foi, no fundo, uma forma melhor de justificar a alta dos juros para combater a inflação. A estratégia deu certo e a inflação caiu para 3,2% em 1983. Mas Volcker ficou conhecido na América Latina como o responsável pela crise da dívida e pela "década perdida" dos anos 80. Como os contratos de dívida externa com juros flutuantes receberam o impacto da alta das taxas americanas, o serviço tornou-se elevado demais, levando um país latino-americano após o outro ao calote, a começar pelo México. O Brasil, é claro, foi um deles. Hoje, porém, há quase consenso de que a atuação decidida de Volcker foi fundamental para tirar os EUA e vários países ricos da "estagflação" (inflação e baixo crescimento), que caracterizou o final dos anos 70. A partir de 1983, a economia americana entrou em uma longa fase de crescimento, entrecortada por duas breves e suaves recessões, antes de ser finalmente interrompida pela crise atual. Carreira Desajeitado, franco e de hábitos modestos, Volcker formou-se em economia em Princeton e fez mestrado em Harvard. Ele iniciou sua carreira no Federal Reserve de Nova York, passou pelo banco Chase Manhattan (que foi absorvido pelo JP Morgan), trabalhou no Tesouro e voltou ao Fed, onde chegou à presidência. Depois de sair do Fed, ele ocupou diversas funções privadas e públicas. Em uma delas, chefiou a investigação sobre o programa iraquiano de "comida por petróleo", cujo relatório final criticou a atuação do de Kojo Annan, filho de Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU.

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