
20 de janeiro de 2009 | 07h07
Um pouco esquecida durante a campanha pela presidência norte-americana, a imigração nos EUA é um dos temas sobre os quais paira expectativa no governo de Barack Obama. O democrata terá a partir desta terça-feira, 20, quando toma posse, de lidar com a questão de aproximadamente 12 milhões de ilegais vivendo no país, em um momento de aumento do desemprego e crise econômica. Veja também:Contas no vermelho são parte da herança maldita de BushEUA foram os que mais perderam com Bush, diz analista Dez lições de Bush para Obama Veja o programa da posse de Barack ObamaGaleria de fotos do show Cronologia de Barack Obama Imagens da família Obama A questão divide os EUA. Para parcela da população, é injusto adotar um amplo programa de legalização, concedendo todos os direitos de um cidadão norte-americano para alguém que está há poucos anos no país. Já os defensores de uma reforma abrangente apontam por exemplo a importância desses imigrantes para a nação. A controvérsia tende a crescer com o desemprego. "A situação econômica é de colapso. Portanto acho que Obama dará prioridade para a economia e a imigração virá em um segundo momento", afirma o professor Aristide Zolberg, diretor do Centro Internacional para Migração, Etnicidade e Cidadania da Universidade New School, em Nova York, em entrevista por telefone. Zolberg afirma que a primeira tarefa a ser feita em relação à imigração é um programa de legalização dos imigrantes. "Mas isso seria extremamente impopular agora, por causa da situação econômica", reconhece, acrescentando que isso deve ficar para 2010 ou depois. Michael Jones-Correa, diretor do Programa de Estudos Americanos e professor de Governo da Universidade Cornell, também diz que a economia será o mais importante nesse início de governo. Ele vê mais espaço, porém, para mudanças já no primeiro ano de Obama na Casa Branca. Jones-Correa afirmou que uma questão importante é se o novo governo tratará a imigração com uma grande reforma ou se preferirá "fatiar" as mudanças. Para ele, a última opção parece a mais provável, para evitar a rejeição por parte considerável da população - e pelos congressistas - de uma reforma profunda. O especialista afirma que Obama deve começar pelos temas "fáceis", como a cidadania para os imigrantes com faculdade ou que prestaram serviço militar. Além disso, deve haver uma expansão no seguro-saúde para crianças, também beneficiando as crianças imigrantes. "Esses pontos podem ser realizados em 2009, de modo a ganhar crédito com a parcela latina e favorável à imigração, sem mobilizar totalmente a coalizão contrária", aponta Jones-Correa. Obama nomeou a governadora do Arizona, Janet Napolitano, para o cargo de secretária de Segurança Interna, posto que tem entre suas atribuições a questão dos imigrantes. Napolitano tem experiência no tema, também por administrar um Estado fronteiriço com o México. "Todo mundo ficou bem satisfeito (com a nomeação), ela é uma pessoa razoável", afirma Zolberg. Jones-Correa também acha a escolha é "interessante". Para ele, a abordagem usada pela governadora no Arizona parece sinalizar o que será a atitude do futuro governo: ceticismo quanto à repressão como única forma de lidar com o tema, mas também mais atenção às leis trabalhistas, o que pode incluir cobranças aos empregadores que mantêm em seus quadros trabalhadores ilegais. O professor de Cornell lembra que o último tópico agradaria também aos sindicatos, historicamente mais próximos dos democratas. Em seu plano de governo, Obama promete ampliar a segurança das fronteiras e melhorar a burocracia em relação ao tema da imigração. Outro tópico do programa é facilitar que as famílias possam viver juntas nos EUA, em um caso em que por exemplo os pais tornam-se cidadãos norte-americanos e os filhos vivem no exterior. Em 2007, o Congresso dos EUA não conseguiu aprovar uma reforma que abriria caminho para a legalização de milhões de ilegais, defendida também por Obama. Com a crise, uma mudança ampla como aquela está mais distante, mas um efeito colateral registrado recentemente foi a queda do número de imigrantes que tentam a vida nos EUA. Um relatório do centro de estudos apartidário Migration Policy Institute divulgado na quarta-feira afirma que o número de imigrantes ilegais permaneceu praticamente estacionado nos 12 milhões, para uma população norte-americana total de pouco mais de 303 milhões. O estudo conclui que o principal motivo para isso é a crise e a queda do emprego. "Com as taxas de desemprego aumentando nos EUA e no mundo, certamente os políticos enfrentarão crescentes pedidos para limitarem a entrada de imigrantes e a probabilidade de se permitir novos programas de trabalhadores temporários será bem menor", diz a diretora de comunicação do instituto, Michelle Mittelstadt.
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