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Trump cogitou trocar procurador-geral por resultados eleitorais

No começo de janeiro, o então presidente dos Estados Unidos cogitava alçar o advogado Jeffrey Clark ao posto de procurador-geral

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - No início de janeiro, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cogitou substituir o procurador-geral por outro advogado do departamento de Justiça mais disposto a colaborar com as investigações de suas acusações infundadas de fraude eleitoral, a ponto de quase abrir uma crise na instituição federal, afirmaram fontes ligadas ao caso.

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O plano, se tivesse sido colocado em prática, teria tirado Jeffrey Rosen do posto de procurador-geral e colocado em seu lugar Jeffrey Clark. Trump já havia indicado o advogado à coordenação da divisão de Meio Ambiente e Recursos Naturais do departamento de Justiça do país.. Mais tarde, ele viria a comandar a divisão Civil.

Clark, então, poderia ter sido conduzido à chefia do departamento para ajudar a manter Trump no poder. Mas o presidente foi dissuadido após encontros com envolvidos nesta mudança.

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: White House via EFE

O plano foi revelado pelo jornal The New York Times. Analistas legais disseram que a mudança seria um ataque desastroso à independência do departamento de Justiça. “Antes da investida rebelde contra o governo, houve uma tentativa de golpe no departamento de Justiça - fomentado pelo presidente dos Estados Unidos”, afirmou David Laufman, um ex-oficial do departamento, em seu perfil no Twitter.

Um porta-voz do departamento de Justiça se recusou a comentar o caso, assim como Rosen. Em nota, Clark afirmou: “Nego que eu tenha planejado ‘um plano para expulsar’ Jeff Rosen. Tampouco formulei recomendações para uma ação baseada em imprecisões captadas na internet”.

“Não existiu ‘manobra’.  O que houve foi uma sincera discussão de opções e de prós e contras com o presidente. É infeliz que aqueles que fizeram parte de uma conversa legal privilegiada venham a comentar publicamente as deliberações internas e ainda distorcer quaisquer discussões”, continuou em seu texto.

Um conselheiro de Trump, ao ser questionado sobre a reportagem, disse: “O presidente Trump argumentou frequentemente que o nosso sistema de justiça deveria estar investigando a maior e mais rampante fraude eleitoral que já atingiu o nosso sistema em anos. Qualquer afirmação contrária é falsa e espalhada por aqueles que desejam manter o sistema violado”.

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Ao longo de seus quatro anos na presidência, Trump insistiu em fazer com que o departamento de Justiça tomasse ações em benefício a ele próprio e seus amigos, mas as tentativas de seus últimos dias no comando ameaçaram ser particularmente danosas. Até o ex-procurador-geral William Barr - que foi um dos secretários mais fiéis e efetivos de seu gabinete - rompeu publicamente com o presidente após as acusações de fraude de votos, declarando que os investigadores não encontraram evidências substanciais de condutas ilegais que poderiam ter prejudicado o resultado da eleição.

Clark, segundo as fontes, de alguma maneira se ligou a Trump e passou a concordar com a possibilidade de fraude. Então, Clark passou a pressionar Rosen e outros a investirem nas acusações - como agendar uma coletiva de imprensa para anunciar que eles estavam investigando acusações sérias. Rosen, então, foi informado de que Clark o substituiria, e ele então procurou agendar uma reunião com Trump. É teoricamente possível que, caso Clark assumisse a procuradoria-geral, ele tentaria questionar de alguma forma os resultados.

Na reunião compareceram Trump, Clark e Rosen, além de Richard Donoghue, então procurador-geral adjunto; Steven A. Engel, chefe do Conselho Legal do departamento de Justiça; e Pat Cipollone, conselheiro da Casa Branca. Esses três últimos eram contrários à ideia de substituir Rosen e alertaram para uma resignação em massa. Trump, no fim, manteve Rosen no cargo e os resultados da eleição foram certificados.

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